As dores da paixão no longa Três Lembranças da Minha Juventude

Diretor francês Arnaud Desplechin contas fatos do passado de um personagem que ele criou em 1996
Ernesto Barros
Publicado em 26/11/2015 às 6:01
Diretor francês Arnaud Desplechin contas fatos do passado de um personagem que ele criou em 1996 Foto: Mares Filmes/Divulgação


Não são poucos os teóricos que afirmam: o cinema é uma arte do tempo e do espaço. E quando o tema de um filme é a rememoração do passado, não há meio mais apropriado que o cinema para evocar o que ficou para trás. Do sueco Ingmar Bergman ao italiano Federico Fellini, do francês François Truffaut ao brasileiro Edgard Navarro, o “eu me lembro” é uma narrativa fascinante, em que recordações doces e amargas ganham novas interpretações.

“Eu me lembro” – como o “Amarcord”, a que Fellini se referia no filme sobre sua adolescência – é uma frase que se ouve repetidas vezes em Três Lembranças da Minha Juventude, o mais novo filme do francês Arnaud Desplechin, que estreia nesta quinta-feira (26/11) no Cine Rosa e Silva. Mas, ao contrário dos exemplos dos cineastas supracitados, Desplechin recria o passado de um personagem de um filme dirigido por ele.

Como o cinema também é a arte da invenção – para muita gente, arte da mentira –, Desplechin mistura algumas de suas lembranças para rever os primeiros anos da vida de Paul Dédalus (Mathieu Amalric), o personagem principal de Como Briguei (por Minha Vida Sexual), de 1996. Neste épico da intimidade, com cerca de três horas de duração, Dédalus, aos 29 anos, é um professor universitário que se envolve com várias mulheres, enquanto não se resolve com a eterna namorada Esther (Emmanuelle Devos).

A primeira lembrança de Dédalus diz respeito à fase mais dolorosa de sua vida, quando, adolescente, não consegue conviver com a mãe doente. Os resquícios do relacionamento vão perdurar por muitos anos, já que o pai dele (Olivier Rebourdin) jamais irá se recompor da falta da mulher. Já adolescente, Dédalus (agora interpretado por Quentin Dolmaire), tem suas primeiras simpatias políticas quando faz uma viagem à União Soviética.

Essas lembranças, um tanto ligeiras, diga-se, parece mesmo um entreato para o encontro entre Dédalus, agora com 19 anos, e Esther (Lou Roy-Lecollinet), uma menina da sua cidade que ele reencontra quando volta de Paris, onde estuda. Quase dois terços de As Três Lembranças de Minha Juventude contam a história de amor entre o jovem estudante de antropologia e sua namorada adolescente.

Mais à vontade para detalhar a forte e conturbada paixão entre os jovens amantes, Desplechin chega ao âmago do seu filme com segurança e muita delicadeza. A inventividade da narração e a interpretação vigorosa de Quentin Dolmaire e Lou Roy-Lecollinet, que se entregam muito aos personagens, são dignas da melhor tradição romântica-realista do cinema francês. O filme é lindo e François Truffaut aprovaria, com certeza.

Leia a crítica completa na edição desta quinta-feira (26/11) no Caderno C, do Jornal do Commercio.

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