Chatô, o Rei do Brasil, já está cartaz no Cinemark RioMar

Filme dirigido por Guilherme Fontes demorou 20 anos para ficar pronto
Ernesto Barros
Publicado em 27/11/2015 às 5:44
Filme dirigido por Guilherme Fontes demorou 20 anos para ficar pronto Foto: Divulgação


Chatô, o Rei do Brasil, que entrou em apenas uma sala do Cinemark RioMar, é um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos. O fato de o seu diretor, o ator Guilherme Fontes, ter passado 20 anos para concluí-lo – ele já foi condenado, inclusive, pelo desvio de verbas no valor R$ 2,5 milhões, que recebeu de patrocínio por meio de leis de renúncia fiscal –, não interferiu em nada no valor do filme como obra arte de alma genuinamente brasileira.

Inspirado em fatos verdadeiros e histórias inventadas, retiradas da biografia escrita por Fernando Morais, Chatô é um retrato licencioso e alegórico da fervilhante vida e morte do paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968), um dos maiores magnatas da imprensa brasileira. Ao contrário do cinema nacional das duas últimas décadas – marcado por um minimalismo excessivo –, Chatô reza pela cartilha da antropofagia e do tropicalismo, como bem definiu o cineasta Cacá Diegues.

A meio caminho entre Terra em Transe e Macunaíma, o longa de Guilherme Fontes, que jamais havia dirigido sequer um curta-metragem, é um jorro de licenças poéticas, revisão histórica e delírio verde e amarelo. O roteiro, escrito a seis mãos por Fontes, João Emanuel Carneiro e o diretor-roteirista americano Matthew Robbins, que foi indicado pelo cineasta Francis Ford Coppola, um dos mentores do filme, em sua fase embrionária, é de uma precisão cirúrgica raríssima.

Chatô é um mergulho no caos absoluto – revira de ponta-cabeça quase quatro décadas de cenas políticas da vida brasileira –, a partir da caricatura selvagem de Assis Chateaubriand, que tomou para si o bastião de todas as mazelas das figuras controversas que fizeram do Brasil um País fora da curva, para o bem ou para o mal. Embora tenha vivido até os 75 anos, o Chateaubriand de Guilherme Fontes é um jovem sátiro (numa interpretação incrível de Marco Ricca) travestido de jagunço, que é julgado num programa de auditório – após uma trombose que o deixou fisicamente paralisado, mas não mentalmente incapaz – pelas mulheres que passaram em sua vida. Mulheres que, do alto de seu machismo atávico, ele amou, abusou e maltratou.

O filme se desenvolve com Chateaubriand em permanente estado de delírio, inferido já a partir da canibalística cena de abertura. Evidentemente, nem tudo são invencionices da cabeça dos roteiristas, apesar dos casos e feitos inacreditáveis em que o jornalista, advogado e empresário se envolveu, como as alianças políticas com ex-presidente Getúlio Vargas (Paulo Betti), que volta à vida para participar de seu julgamento, como uma espécie de advogado de defesa.

Até agora, não se sabe ao certo quanto o filme custou. Deve ter custado horrores, mas o gasto transparece em cada cena – da fantástica reconstituição de época ao grande número e figurantes. Visto agora, depois de tantos anos de filmado, o que mais surpreende é que Chatô parece haver sido feito ontem. Não só pelos atores, muitos jovens na época – como Leandra Leal, como a jovem amante Lola, de 16 anos –, nem pela excelente técnica cinematográfica (ninguém utilizava a tela cinemascope na época), mas pelo que o Brasil continua a ser.

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