Cine Olinda continua ocupado

Movimento, sem liderança definida, quer ocupar o prédio com exibições até a reabertura oficial do cinema
Bruno Albertim
Publicado em 07/10/2016 às 6:11
Movimento, sem liderança definida, quer ocupar o prédio com exibições até a reabertura oficial do cinema Foto: JC IMAGEM


Aberto há mais de cem anos como Cine-teatro de Variedades, fechado há inacreditáveis 50 e em reformas e promessas de inauguração nunca cumpridas há uma década, o Cine Olinda está ocupado há uma semana. Desde a última sexta-feira, militantes dormem e se revezam no lugar para pressionar pela reabertura do prédio histórico do Carmo. Com alimentos e outros víveres doados por simpatizantes, eles chegam a somar mais de 50 pessoas no momento de maior concentração. Ontem, correu um boato de que seriam expulsos.


“A informação de que o Iphan (Instituto do Patrimônio Artístico Nacional) iria pedir a reintegração de posse não foi oficializada”, diz o crítico de cinema André Dib, integrante do Cine Rua, um dos três movimentos que têm, nos últimos meses, se organizado para montar pautas que agilizem a abertura do cine. A ocupação, contudo, não tem nenhum movimento organizado que responda pela iniciativa.


“Essa é uma ocupação horizontal, uma ocupação auto-gerida. Mas a pauta é que o cine público cumpra sua função, estando aberto ao uso como cinema e que a população possa pressionar para uma gestão popular, antes que aquilo vire qualquer coisa, menos um cinema”, diz o cineasta Ernesto de Carvalho, membro do coletivo Ocupe CineOlinda.
Essa tem sido a estratégia dos movimentos: exibir curtas e longas metragens na sala fechada como uma forma de pressionar pela sua reabertura com engajamento público. Amanhã, às 20h, por exemplo, o movimento exibe o festejado Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. “Depois de 50 anos sem ninguém ali dentro, já somamos um público de cerca de 500 pessoas nas exibições. É um momento, portanto, histórico”, diz Ernesto.


A atual ocupação se deu, justamente, na última sexta, quando, após a exibição dos filmes, um grupo espontâneo resolveu montar acampamento no lugar. Mas se não é certa a intenção do Iphan de retomar o prédio, tampouco tem sido exatamente tranquila a relação entre a superintendência do órgão que zela, em tese, pelo patrimônio histórico e a militância pelo Cine Olinda. “Depois de uma semana de conversas, o Iphan decidiu, de véspera, não permitir as exibições da última sexta”, comenta Dib. “Nossa ideia é a criação de um comitê de gestão compartilhada e que o cinema seja entregue e equipado no período máximo de um ano”.


Em março último, alegando incompetência da empresa contratada para as obras, o Iphan abriu mão da gestão da reforma. Mas a Prefeitura de Olinda ainda se recusa a receber o prédio de qualquer maneira, sem um relatório detalhado - o que, mais cedo ou mais tarde, terá que acontecer. Há, contudo, uma sinalização positiva. O Governo do Estado garantiu repassar os R$ 2 milhões necessários para a finalização do prédio já quase inteiramente reformado. “Essa foi uma sugestão da própria Prefeitura, que o governador acatou”, endossa Márcia Souto, presidente da Fundarpe.

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