Para aqueles saudosos do filme Os Saltimbancos Trapalhões, de 1981, um aviso, antes de tudo: a versão 2017, que ganhou o subtítulo de Rumo à Hollywood e chega nesta quinta-feira (19) aos cinemas de todo o Brasil, não é um remake. De semelhante ficaram apenas a trilha sonora e nomes de alguns personagens. O roteiro é completamente diferente daquele longa do início dos anos 1980, mas para as gerações que cresceram acompanhando o “da poltrona” nas telinhas e, principalmente, nas telonas, vale a pena dar uma chance a este 50º filme de Renato Aragão que tem, de fato, uma atmosfera de comemoração.
No novo enredo escrito por Mauro Lima (com argumento de Claudio Botelho, Charles Möeller e Renato Aragão), Didi Mocó e Karina (Letícia Colin) têm a difícil missão de ajudar o Grande Circo Sumatra a sair de uma grave crise financeira. Quando Barão (Roberto Guilherme), dono do circo, aceita propostas do corrupto prefeito da cidade (Nelson Freitas), eles se reúnem para montar um novo número e atrair o público de volta. O roteiro surge a partir dos sonhos malucos de Didi, que conversa com animais falantes. Além do prefeito, eles enfrentam a arrogância do gerente do circo, Assis Satã (Marcos Frota), e sua cúmplice, Tigrana (Alinne Moraes), para tentar salvar o circo e levar adiante a ideia de um novo e sensacional espetáculo.
Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo à Hollywood também traz de volta Dedé Santana aos filmes de Renato, ausente desde O Trapalhão e a Luz Azul (1999). A parceria é retomada para coroar o momento especial do protagonista da história.
A direção de João Daniel Tikhomiroff trouxe a trama para os dias atuais, com números musicais ágeis e alegres. Nos primeiros momentos do longa, o clássico Pirueta, de Chico Buarque, apresenta bem o espaço circense e o elenco de artistas e bailarinos que tomam conta de cada canção.
O elenco jovem se sobressai com o trabalho de Letícia Colin. A atriz, que já teve experiências com musical, honra bem a personagem que, na história de 1981, foi interpretada por Lucinha Lins. Emílio Dantas na pele de Frank Severino e Rafael Vitti como o acrobata Pedro cumprem as expectativas de seus papéis, sem nenhuma surpresa. Entre os adultos, Alinne Moraes se destaca como Tigrana, e Maria Clara Gueiros arranca algumas risadas como a cigana charlatã Zoroastra.
Mesmo com a alegria e o bom humor de Didi, que diverte os espectadores com suas famosas tiradas, o filme traz momentos de emoção em que enxergamos mais o criador do que a criatura em si. No dueto dele com Luiza, interpretada por Livian Aragão, nos primeiros versos de Minha Canção, vemos o encantamento de Renato ao admirar a sua filha em cena. E ao fim do filme, quando é devidamente reverenciado, com direito a uma rápida e emocionante menção aos Trapalhões que se foram, não se enxerga Didi em cena novamente e, sim, um ator grato pela história de sucesso que construiu por gerações.
Por isso, a certeira sequência que abre o filme – com Didi Mocó recebendo um “OsCaras” em Hollywood pelo conjunto da obra – faz todo o sentido se considerarmos o árduo trabalho desse cearense em divertir crianças de todas as idades em cinco décadas de carreira.