Cineastas dizem que Temer é uma ameaça à cultura do Brasil

O diretor pernambucano Marcelo Gomes leu para a imprensa uma carta com 300 assinaturas
Anna Pelegri
Publicado em 16/02/2017 às 16:14
O diretor pernambucano Marcelo Gomes leu para a imprensa uma carta com 300 assinaturas Foto: Tobias Schvarz/AFP


BERLIM -  Cineastas brasileiros denunciaram nesta quinta-feira (16), no Festival de Berlim, que a cultura do país está ameaçada pelo governo "ilegítimo" do presidente Michel Temer, pedindo o apoio da comunidade internacional do cinema.

Esta é uma "carta de alerta ante a crise democrática que estamos vivendo", disse à AFP o diretor Marcelo Gomes, depois de ler um texto para a imprensa, assinado por 300 personalidades e trabalhadores do cinema, em sua maioria brasileiros.

O governo de Temer "fez mudanças terríveis na área social e educacional. Os avanços que tinham sido feitos ele retiraram, e agora vai acontecer o mesmo (com a cultura) se não gritarmos", acrescentou o cineasta, cujo filme, Joaquim, concorre ao Urso de Ouro.

O Brasil está representado na Berlinale por cerca de 15 filmes, e entre os que firmaram a carta estão os diretores Fabio Meira (As Duas Irenes), Davi Pretto ("Rifle") e Lais Bodanzky (Como Nossos Pais).

Os diretores pediram o apoio da comunidade cinematográfica na sua "luta para proteger as políticas" culturais adotadas durante os governos de Lula e de Dilma Rousseff.

Mostraram-se especialmente preocupados com as próximas nomeações para a Agência Nacional de Cinema (Ancine), cujo trabalho nos últimos anos elogiaram.

"Os resultados são visíveis: 27 filmes foram selecionados" nos primeiros festivais internacionais do ano e o setor audiovisual cresceu 8,8% em 2016, muito acima da economia nacional, ressalta a carta.

CHAMADO À RESISTÊNCIA

Os cineastas destacaram, ainda, que a Ancine permitiu que se desse voz à diversidade étnica, racial, cultural e religiosa do país. 

"Vivemos em um momento muito complexo e muito inseguro", insistiu Gomes, que comparou a atualidade brasileira com seu filme baseado na figura histórica de Joaquim José da Silva Xavier, o "Tiradentes", que lutou contra o colonialismo português no século XVIII. 

O diretor desconstrói este herói nacional, interpretado pelo ator Julio Machado, para mostrar um perfil humano e ressaltar que qualquer um é "capaz de um ato heroico". 

"É um chamado à resistência, para uma sociedade mais justa", disse.


 

Tiradentes foi um soldado da coroa portuguesa que passou para o lado revolucionário.

Entre a história e a ficção, Gomes mostra como os heróis se formam por acidentes da vida, e imagina que Tiradentes se transformou por amor, ao se apaixonar por uma escrava, interpretada por Isabél Zuaa.

O primeiro filme de Gomes, Cinema, Aspirinas e Urubus, foi apresentado em Cannes em 2005.

O júri da Berlinale anunciará neste sábado o ganhador do Urso de Ouro, prêmio pelo qual compete também outra película latino-americana, "Uma mulher fantástica", do chileno Sebastián Lelio.

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