O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho ainda não foi notificado do inquérito civil aberto pelo Ministério Público Federal no Recife depois que o órgão recebeu uma denúncia anônima, no ano passado, sobre improbidade administrativa e irregularidade na premiação de R$ 1 milhão para o longa-metragem Aquarius por meio de um edital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), realizado em 2013.
“A nossa certeza é que a denúncia é completamente equivocada, porque o que consta nos autos já nos é favorável, ao afirmar que Aquarius captou recursos pela Lei Rouanet, quando foi pela Lei do Audiovisual, que tem outra regulamentação. Não há nenhum impedimento de que Kleber, na condição de então servidor público da Fundaj, fosse sócio de uma empresa que captasse esse recurso, porque não há vedação para isso”, explicou o advogado Alexandre Câmara, representante o cineasta, que não quis se pronunciar sobre o tema, por enquanto.
A denúncia ainda aponta que o cineasta era sócio-administrador da Cinemascópio Produções Cinematográficas, o que contraria o regimento dos servidores da União. No texto da denúncia, há ainda uma menção à empresa Domínio Público, que seria um nome de fantasia da produtora Cinemascópio. “Há 10 anos que Kleber não é administrador da empresa, o que está no contrato social dela. Isso é uma completa invenção de quem fez a denúncia, feita com má-fé apenas para prejudicá-lo. Nada do que está na denúncia se sustenta”, reagiu o advogado.
Outro ponto da denúncia questiona a jornada de trabalho do cineasta, durante o seu período como Coordenador de Cinema da Fundaj, onde trabalhou por 18 anos. “Em todo esse tempo nunca houve uma suspeita sequer do seu trabalho. Agora, Kleber saiu da Fundaj para ser o novo curador dos cinemas do Instituto Moreira Salles, o que demonstra o excelente trabalho dele, conhecido em todo o Brasil. Isso deveria ser visto como motivo de orgulho para todos os pernambucanos”, afirmou Alexandre.
Kleber e o seu advogado estão acompanhando o processo desde o início. “A gente entende que o Ministério Público tem que investigar o que for levado até ele. Agora vamos ter a oportunidade de apresentar a nossa manifestação e acreditamos que a denúncia será arquivada pelo órgão” concluiu o advogado.
A denúncia ao Ministério Público Federal foi protocolado em novembro do ano passado, um mês depois que Kleber Mendonça Filho pediu exoneração do cargo que ocupava na Fundaj.
Antes de seu pedido de exoneração, o cineasta manisfestou-se diversas vezes contra o governo Temer. Em maio, durante a apresentação de Aquarius, no Festival de Cannes, o cineasta e sua equipe levantaram cartazes que dencunciavam um golpe de estado no Brasil, quatro dias depois do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff.
Na ocasisão, Kleber recebeu muitas críticas, principalmente por ser servidor federal e que por isso não devia se manifestar. Alguns meses depois, outra polêmica envolveria o cineasta e o Ministério da Cultura, quando uma comissão criada pelo Secretaria do Audiovisual - SaV, criou uma comissão para escolher o filme que representaria o Brasil na categoria de Filme Estrangeiro do Oscar. Um dos membros da comissão, o jornalista paulista Marcus Petrucelli, ofendeu o cineasta nas redes sociais e ainda falou mal de Aquarius antes mesmo de assisti-lo.
Quando a comissão divulgou o resultado, Aquarius - considerado o favorito - foi preterido por Pequeno Segredo, que acabou por não ficar na lista dos filmes selecionados ao OScar 2017.