SÃO PAULO – Hoje não é quinta-feira, mas tem estreia no cinema nacional. Também não é um filme estrelado por Paulo Gustavo, mas ele divide muito bem os holofotes com a protagonista Mônica Martelli. Tampouco é uma comédia romântica que fala só de amor. Minha Vida em Marte foca, sobretudo, no poder da amizade.
Foi nesse clima de harmonia que o Jornal do Commercio foi recebido na capital paulista para conversar com Mônica, que interpreta a Fernanda, e a diretora do longa, Susana Garcia. E ambas garantiram que, mesmo com o sucesso do primeiro longa – Os Homens São de Marte... E é Pra Lá Que Eu Vou (2014) – não havia uma intenção de uma continuidade nas telonas.
“O primeiro filme fechava um ciclo. A gente sabia que queria continuar com a Fernanda, como seguimos com a série Os Homens São de Marte (GNT) – já foram três temporadas – depois fizemos a peça. Mas em nenhum momento fizemos o primeiro filme pensando numa continuação”, explicou Susana. Porém, para Mônica, a longevidade da personagem Fernanda Ventura é bem maior.
“A gente queria que essa personagem continuasse na vida, porque enquanto estou vivendo, ela está vivendo de mãos dadas comigo, para onde eu for. Todas as minhas experiências, inseguranças, fragilidades... Tudo o que eu passo na vida eu coloco na Fernanda. Acho que é por isso que tem essa identificação muito grande porque é muito de verdade. E eu sempre quis continuar a história dela. Enquanto eu estiver vivendo e tiver história para contar, eu vou contar”, disse a atriz.
No roteiro de Minha Vida em Marte – que tem redação final de Mônica, Susana e do próprio Paulo Gustavo – Fernanda (Martelli) está em crise no seu casamento, mas ela tem o apoio incondicional de Aníbal (Paulo), seu sócio e companheiro inseparável, que está sempre ao seu lado durante toda a jornada para ajudar a resgatar seu casamento, ou acabar de vez com ele.
Para levar o longa às telonas, segundo Susana, foi necessário um ano para conceber o roteiro e seis meses para criar os diálogos. “Nós nos encontramos muitos meses, três vezes por semana, durante muitas horas pensamos em cada cena, cada fala, diálogo, tudo muito pensado, estruturado para contar a história. [...] Eles iam lá para casa, ficavam em pé criando, eu falava qual era a importância da cena para fazer a história andar, eles criavam, eu gravava, transcrevia tudo, e ali surgia um roteiro bem artesanal”, relatou.
A química entre Mônica e Paulo em cena, fruto da intensa amizade dos dois atrás das câmeras, deu margem para pequenos improvisos no set, mas, acreditem, a maioria das cenas foi de fato planejada. E para Mônica, Minha Vida em Marte tem uma mensagem muito forte para as mulheres.
“A Fernanda do filme é a mulher que sou hoje, que rompeu um casamento, que não teve medo de separar – porque é muito difícil a gente se separar depois dos 40 anos. Porque moramos num País em que a mulher, depois dos 40 anos, fica invisível. Moramos num País em que uma mulher separada é desvalorizada sem um homem do lado. É um País extremamente machista apesar de todo o movimento feminista. Mas a Fernanda rompe, tem coragem. E ela entende que os momentos felizes que a gente tem na vida, não estão necessariamente num relacionamento amoroso”, declara a protagonista.
Prometendo gargalhadas, mas também emoção, o longa promete trazer uma boa reflexão neste fim de ano. “No filme nós entendemos que podemos passar por várias situações dolorosas na vida, mas com leveza e humor, se tiver um amigo do lado, como a Fernanda tem, o Aníbal tem. Esse filme é uma grande homenagem à amizade”, conclui a eterna habitante de Marte.
*O repórter viajou a convite da Downtown Filmes.
Durante 1h50 de filme, Minha Vida em Marte parece ser mais do mesmo, a princípio. Desde a crise no casamento que parecia ser perfeito, até o início da separação, com direito a uma locação em Nova York para “curar a fossa” com um amigo inseparável. Mas Mônica Martelli e Paulo Gustavo conseguem segurar o espectador na sala do cinema, seja pelas (inúmeras) tiradas engraçadas que parecem, em sua maioria, improvisadas, tanto quanto a condução que surpreende, principalmente em seus desfechos.
Outra boa surpresa do segundo longa da franquia inspirada na obra de Mônica Martelli são as escolhas certeiras da trilha sonora. Desde Linger, do The Cranberries, que introduz o clima melancólico de fim de relacionamento, passando por N, de Nando Reis, em um momento crucial e até no fim da trama, quando a música escolhida traz ainda mais emoção.
O clima de naturalidade entre os atores dá a entender que estamos mesmo presenciando uma crise conjugal. Além de Mônica e Paulo, como os amigos Fernanda e Aníbal, Marcos Palmeira também convence como o marido Tom – com direito a brincadeiras ambientais, que conversam com a vida real do ator – e até mesmo as pontas de luxo de Fiorella Mattheis (Carol) e Heitor Martinez (Humberto) contribuem para o bom fluir do longa.
Minha Vida em Marte diverte e provoca uma boa reflexão sobre amor e amizade. E ainda que muitos reclamem do estilo “mais do mesmo” de Paulo Gustavo de interpretar, é ele que joga em sintonia com Mônica nos momentos mais divertidos e até decisivos do filme.
Já Mônica, que tem a propriedade de Fernanda como ninguém, traz uma personagem que é praticamente seu alter-ego, gerando identificação em muitas mulheres, mas que consegue surpreender com suas atitudes e descobertas durante um difícil processo de separação.