Se não fosse o escritor russo Máksim Gorky (1868-1936) talvez o cinema não tivesse tanto apego em emoldurar retratos de mães emocionantes e verdadeiros. Afinal, seu romance publicado em 1906, A Mãe (Mat), ganhou até hoje quatro versões cinematográficas. A mais conhecida, e considerada um clássico, é a realizada durante a época silenciosa, em 1926, por Vsevolod Pudovkin. Com a força inerente ao cinema russo revolucionário daqueles anos, o rosto em lágrimas da atriz Vera Baranovskaya, que luta pela libertação de um filho preso pela polícia czarista, é uma das imagens mais fortes da história do cinema.
Desde que a Sétima Arte começou a falar para as massas, justamente a partir dos anos 1920, nunca mais as mães deixaram de ter um lugar cativo, não só no coração de filhos e filhas, como no do público, onde houver uma sala de cinema. É por isso que, apesar de hegemônico desde sempre, as mães não são uma commodity exclusivamente hollywoodiana, embora venham de lá centenas de exemplos de mães, mulheres lutadoras, verdadeiras leoas em defesa de suas crias. Olhando retrospectivamente, hoje conseguimos ver como elas lutavam também contra o machismo. Qual exemplo melhor do que Stella Dallas, Mãe Redentora (1937), de King Vidor, onde uma mulher trabalhadora, massacrada pelas convenções sociais, é obrigada a amar a filha às escondidas, porque é vista como uma má influência pelo status quo masculino.
A visão das mães que colocaram os filhos nas alturas, que os empurraram para ter uma vida melhor do que a delas, alcançar o sucesso e garantir o futuro, talvez seja a mais presente nos filmes em todos os tempos. Vejamos o exemplo de Belíssima (1951), o clássico italiano de Luchino Visconti, com ninguém menos que “la mama” Ana Magnani, no papel de Maddalena, uma mãe que sacrifica até o aluguel da casa para fazer com que a filha, uma pré-adolescente, seja a escolhida para fazer um filme em Cinecittà. Pródigo em mulheres inesquecíveis, até hoje o cinema italiano não cansa de surpreender, como no recente Minha Mãe (Mia Madre, 2015), de Nani Moretti, em que uma cineasta precisa encarar que sua genitora não vai estar presente para sempre em sua vida.
São muitas mães que usam todas as armas, chegando às raias da loucura, para salvar os filhos das garras do mal e de qualquer outro perigo. A atriz americana Sally Field, por exemplo, fez duas mães inesquecíveis, mas diametralmente opostas na maneira como defendiam suas crias. Em Nunca Sem a Minha Filha (Not Without My Daughter, 1991), de Brian Gilbert, mãe e a filha são sequestradas pelo marido e pai e levadas para o Irã, de onde são informadas que não podem mais sair. Mas Betty, o personagem de Sally, não vai sossegar enquanto não fugir das garras do marido árabe e levar, claro, a filha Mahtob de volta para casa. Em Forrest Gump, o Contador de Histórias (1994), de Robert Zemeckis, Mrs. Gump (Sally) não deixou um dia sequer de apoiar o filho Forrest (Tom Hanks), que desde cedo mostrou que não era dos meninos mais inteligentes. “A minha mãe sempre disse que você tem que colocar o passado para trás antes que possa seguir em frente”, é apenas uma das inúmeras referências de Forrest à mãe, neste filme ganhador de seis Oscars, inclusive Melhor Filme, em 1995.
Mrs. Gump talvez não seja o protótipo de mãe-coragem – termo derivado de uma peça de Bertolt Brecht, sobre uma mãe que vê os filhos morrerem um a um –, mas ela, com seu jeitinho de lidar com Forrest, não faz feio ao lado de leoas que fizeram bonito no cinema. Uma das mais fortes é a revolucionária Sarah Connor (Linda Hamilton), que luta desesperadamente contra androides do mal para salvar o filho, John (Edward Furlong), em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (Terminator 2: Judgment Day, 1991), de James Cameron. O filho de Sarah, como sabemos, é a esperança do futuro da humanidade. Em suma, a luta de todas as mães é sempre essa: que os filhos possam chegar à vida adulta. É o mesmo enfrentamento da mãe feita por Naomi Watts, em O Impossível (Lo imposible, 2012), de J. A. Bayona, para encontrar o filho Lucas (Tom Holland, o novo Homem-Aranha), desaparecido depois de um tsunami na Tailândia.
Nem sempre há apenas heroísmo na vida das mães retratadas no cinema: às vezes, eles se divertem com situações absurdas; ou sofrem, quando é preciso que os filhos mostrem quem elas são. Como a pernambucana Val (Regina Casé), de Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, em que a filha Jéssica (Camila Márdila) sai do Recife para São Paulo para mostrar como uma mãe é importante. E ainda tem mães que quase ficam loucas, como Jamie Lee Curtis, em Sexta-Feira Muito Louca (Freaky Friday, 2002), que troca de lugar com a filha (Lindsay Lohan) por causa de feitiço. Enfim, no cinema, todo dia é Dias das Mães.