Estreia

Crítica: 'Maya' e a busca pelo lugar que nos caiba

Novo trabalho da francesa Mia Hansen-Løve estreia nas duas salas do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 27/06/2019 às 13:36
Zeta Filmes/Divulgação
Novo trabalho da francesa Mia Hansen-Løve estreia nas duas salas do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco - FOTO: Zeta Filmes/Divulgação
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Entender o cinema de Mia Hansen-Løve é enxergar até onde as tendências do cinema de arte francês se confundem com uma política autoral. Suas obras sempre se posicionam nesse limiar – onde toda concepção de mise-en-scène, às vezes um pouco mais segura, sustenta dramas extremamente singulares (em argumento e execução).

Maya, novo filme da cineasta que entra em cartaz nas duas salas do Cinema da Fundação, é um bom exemplo. O longa acompanha Gabriel, um repórter de guerra francês que após meses preso num cativeiro na Síria, resolve passar um tempo na Índia – onde viveu boa parte da sua infância.

Para além do “primeiro mundo vai ao terceiro mundo”, bastante usado para criticar e resumir o plot do filme, Hansen-Løve constrói seu protagonista sob um sentimento de desterritorialização. Gabriel é filho de diplomata e seu trabalho o obriga a viajar constantemente. Na Índia, sua curta memória afetiva está ligada a lapsos de momentos com sua mãe, sua antiga casa e sua relação com seu padrinho – que o possibilita iniciar um romance com Maya, filha dele.

A carga política do longa, até por isso, fica em segundo plano. Maya se debruça sobre essas relações humanas, num jogo de elipses que estão sempre buscando momentos inspiradores e sublimes nas trivialidades do cotidiano.

BUSCA

Nesse sentido, o filme se assemelha a outra excelente obra da cineasta: Adeus, Meu Primeiro Amor (2011). Assim como Camille – protagonista do longa, Gabriel caminha sobre incertezas, numa constante busca de solidez afetiva e, principalmente, espacial. Ao redor deles, Hansen-Løve executa uma política de espaços encantadora e bastante sugestiva – que encontra na Índia um ambiente perfeito. A cidade quase sempre é claustrofóbica, enquanto a natureza se apresenta como local lapidado para os pequenos momentos catárticos do drama.

Acima de tudo isso, está o tempo e sua força transformadora (quase marca autoral no cinema da diretora). Em Eden (2014) – outra grande obra de Hansen-Løve, ele ganha um teor realista, por vezes, fatalista na sua crueza. No já citado filme Adeus, Meu Primeiro Amor, assume um caráter naturalista – um sopro de inspiração que revigora diante de um processo inevitável. Em Maya, não há definição exata, a atuação corporal de Roman Kolinka, ator que vive Gabriel, sempre nos entrega a dúvida dos gestos. Terminamos sem uma definição dos resultados das experiências vividas, nos tornando (e aceitando que somos) apenas espectadores e acompanhantes de tudo aquilo.

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