Comédia

Crítica: 'Praça Pública' tenta criar humor entre contrastes

A comédia francesa entra em cartaz nesta sexta (24) no Cinema da Fundação, nas suas duas salas

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 23/05/2019 às 17:26
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A comédia francesa entra em cartaz nesta sexta (24) no Cinema da Fundação, nas suas duas salas - FOTO: Reprodução
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Dirigido, roteirizado e atuado pela cineasta Agnès Jaoui, a comédia francesa Praça Pública entra em cartaz no Cinema da Fundação, nas salas do Derby e do Museu. O longa acompanha excêntricos convidados de uma festa numa casa de campo. O satélite e personagem principal da trama é Castro, um arrogante apresentador de TV que vem perdendo seu prestígio, e é vivido pelo ator Jean-Pierre Bacri – ex-marido da diretora na vida real e na trama.

Toda história se passa no período da festa, com ápices dramáticos e situações engraçadas geradas pelos diversos contrastes entre os personagens. Jaoui concebe um entorno sempre tensionado - desde as cenas iniciais, mas com fragilidades que lembram obras recentes da fase mais declinante do norte-americano Woody Allen. Comédias que até tentam se posicionar como atuais diante dos temas do seu tempo, mas que as enxergam com olhares datados e simplórios.

Há de se ressaltar, a comédia sempre foi um dos gêneros cinematográficos que melhor conseguiu catalisar tensões – de Chaplin, Jacques Tati a Mouret, para citar um bom nome recente. O problema é quando a sátira não vai a fundo ou não conhece bem o que se propõe a debater, resultando em uma pretensão totalizante, ou em muletas de gênero - exatamente as principais complicações de Praça Pública.

PRETENSIOSISMO

Os personagens caricatos não são, a princípio, um problema – as suas concepções intensificam os contrastes entre eles: famosos e anônimos, moradores da cidade e moradores do campo, burgueses e trabalhadores, velhos e jovens. A fragilidade está na forma como eles tentam traduzir a realidade que os cerca – para além da obra e refletindo sobre ela.

Um bom exemplo é no embate entre Castro e o youtuber Biggstar. As discussões sobre relevância e novas formas de mídia são extremamente rasas e batidas, se atendo a esteriótipos antiquados sobre seu poder social e de alcance. Isso para não citar quando a imigração torna-se o foco.

Esses defeitos não são ligados, propriamente, a uma forma de ver ao mundo que não seja "ideal" para alguns. Longe disso, eles só geram humor ruim. Clint Eastwood, com toda sua ambiguidade, sempre concebeu filmes "conservadores" que funcionam perfeitamente a despeito de qualquer posicionamento de quem os confronta - o mesmo serve para Godard do outro lado, por exemplo. E não é nem que o filme deseje fincar algum posicionamento. Mas ao procurar ter na sua base humorística tensões tão marcantes e complexas, as pretensões terminam se tornando pretensiosismo.

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