Lama dos Dias refaz história da manguebeat

Série de Hilton Lacerda e Hélder Aragão está em gravações no Recife
Ernesto Barros
Publicado em 18/07/2017 às 5:19
Série de Hilton Lacerda e Hélder Aragão está em gravações no Recife Foto: Divulgação


Até que a antena enterrada na lama virasse símbolo do movimento mangue, muitos sonhos foram vividos sob o sol recifense. A preamar da manguebeat já rolava desde o final dos anos 1980 nos bares do Recife e na periferia de Olinda. A série de TV Lama dos Dias, em processo de gravação até a próxima semana, respira o clima daquela década e da virada de mesa que viria a seguir – quando o Recife emergiu do caos e da lama para uma urbe pulsante.

“Tivemos locações no Bairro do Recife e em outras que a direção de arte pôde modificar. E também lugares congelados no tempo, como algumas ruas do centro e do bairro da Boa Vista. As locações foram escolhidas em função da reconstituição de época. A diferença é que a série, apesar de se passar no Recife, não mostra praias nem o bairro de Boa Viagem”, diz Helder, com sua contumaz risadinha sarcástica.

Produzida por Malu Campos e o Canal Brasil, a série Lama dos Dias, criada por Hilton Lacerda e Hélder Aragão, capta o barulho que os primeiros mangue boys e mangue girls estavam fazendo. Hilton e Helder, por exemplo, formavam uma dupla criativa de designers com nome de músicos, ou vice-versa: Dolores (Hélder) e Morales (Hilton). Já naquele tempo, Hilton carregava debaixo do braço um exemplar do romance A Espuma dos Dias, do francês Boris Vian, que ele agora presta homenagem em sua segunda série para a TV.

“É uma ficção que pode não ter muita precisão, mas é sob a perspectiva de quem viveu os anos 1980. É um momento importante para a história do Brasil. Collor assume o poder e também tem uma série de mudanças no mundo, como a derrubada do Muro de Berlim, uma série de paradigmas que caíram e foram substituídos por outros. Para gente, é um ano chave para Brasil e para o mundo”, explica Helder.

A primeira temporada da série, formada por sete episódios de 26 minutos cada, cobre um ano de história – do Revéillon de 1989 ao Natal de 1990. A produção executiva é do experiente João Vieira Jr., que produziu a série Fim do Mundo, a primeira escrita por Hilton (codirigida por ele e Lírio Ferreira) e exibida no Canal Brasil, no ano passado. Dividido entre o Recife e Fortaleza, onde acompanha a pré-produção de Greta Garbo (título provisório), de Armando Prata, João considera que tem ficado mais ousado com o passar dos anos.

“Nunca tinha acontecido de estar envolvido em duas produções ao mesmo tempo. Acompanhei todo o processo de criação de Lama dos Dias e ajudei no desenho da produção. A produção para a TV tem orçamento mais reduzido e rapidez nas gravações. É um grande desafio, mas que a experiência com a produção cinematográfica ajuda a entender”, pondera o produtor, que acaba de criar o selo Carnaval Filmes, em parceria com Nara Aragão, embora esteja ainda ligado à Rec Produtores, fundada há 18 anos.

NOVA MANGUEBEAT

Além de escrever o roteiro, Hélder Aragão também precisou recriar o som da manguebeat. No seriado, parte da trama gira em torno da banda Psicopasso. “A série trata da turma que está vendo a manguebeat nascer, mas que não era necessariamente a turma da Mundo Livre S.A. ou da Nação Zumbi, mas de várias bandas e turmas da cidade, focando uma banda fictícia. Além de toda a reconstituição de época, eu tive que fazer todo o repertório dessa banda, compor as músicas e conceitualizá-la, enfim todo um universo, porque, como fica difícil licenciar música de época, tive que criar tudinho”, adianta Helder.

Ele também evitou contratar atores para fazer papéis de músicos. Por isso, o elenco traz nomes como o pianista Vítor Araújo e a cantora Louise França, filho de Chico Science, que também é atriz. Além do elenco formado por muitos estreantes, a dupla convidou alguns atores profissionais, como Júlio Machado, do filme filme Joaquim, de Marcelo Gomes, e Maeve Jinkings, um dos nomes mais reconhecíveis do cinema pernambucano. “Eventualmente, resgatamos pessoas que fizeram parte daquela cena, que aparecem como figuração fazendo o papel delas mesmo, como Roger de Renor, Paulo André Pires, Renato L., Fred Zero Quatro, Quéops Ferraz, entre outros”, revela Hélder.

Ele ainda volta aos seus tempos de designer e desenhista nas cenas de animação de Lama dos Dias. “A animação é um suporte da narrativa que temos usado como recurso. Estou bem envolvido nesse momento. Elas serão usadas na próxima semana, no finalzinho das gravações”, explica o multiartista sergipano, que veio estudar no Recife nos anos 1980 e meteu o pé na lama recifense, embora hoje seja um cidadão do mundo com seu sucesso internacional com DJ.

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