Depois do sucesso mundial de "Narcos", o diretor brasileiro José Padilha volta com tudo à Netflix. Desta vez para retratar o megaescândalo de corrupção que há anos sacode o Brasil através de uma trama inspirada na operação de investigação "Lava Jato".
"O Mecanismo" estreará no próximo 23 de março e contará a história de um policial obcecado por desentranhar os negócios obscuros de um doleiro, uma investigação que acabará tomando dimensões gigantescas e alcançará poderosos considerados intocáveis até então.
Embora se trate de uma trama de ficção, Padilha faz referências constantes à realidade brasileira.
"No Brasil a corrupção faz parte da lógica, da estrutura da política. A corrupção é a norma. Esse 'mecanismo' não tem ideologia, está tanto nos governos de direita como de esquerda", disse o diretor na coletiva de imprensa de apresentação da série no Rio de Janeiro.
Em "O Mecanismo" tudo parte, precisamente, de uma descoberta em um negócio de lava jato, da mesma forma que começou a operação "Lava Jato" em 2014, que desde então levou à queda de políticos e empresários.
Na série, ambientada principalmente em 2013 em um Brasil dirigido por uma presidente, a fictícia "Petrobrasil" e a construtora "Miller & Brecht" estão no centro do megaesquema de corrupção, assim como estiveram, na realidade, a Petrobras e a Odebrecht.
A investigação sobre o "maior escândalo de corrupção de todos os tempos" é protagonizada pelos brasileiros Selton Mello, no papel de policial, Carol Abras, como sua discípula, e Enrique Diaz, como o doleiro corrupto.
"Acredito que o público se identificará com o lado cidadão do policial, um cara que quer justiça e que as coisas sejam melhores", disse Selton Mello.
Depois de retratar o império construído pelo narcotraficante colombiano Pablo Escobar e pelos dirigentes do cartel de Cali em "Narcos", a Netflix aposta agora neste thriller policial e político.
"Buscamos temas que possam ser globais, e a corrupção é um tema que é relevante na América Latina. Além disso, a série é feita por pessoas muito talentosas", apontou o vice-presidente de séries da Netflix, Erik Barmack.
Mas esta série, filmada em português, terá tanto sucesso quanto "Narcos"?
"Na América Latina, em geral, as pessoas vão entender, inclusive porque [o esquema de corrupção da] Odebrecht alcançou vários países e porque a lógica da política no Brasil não é tão diferente da do México ou Venezuela", considerou Padilha.
Aclamado por sua saga cinematográfica "Tropa de Elite", sobre os procedimentos da polícia nas favelas do Rio de Janeiro, agora Padilha promete causar polêmica com este projeto que volta a exibir o lado mais obscuro do Brasil.
E embora a Lava Jato já tenha inspirado filmes, em geral aduladores dos juízes e procuradores encarregados da operação e críticos com os governos de Lula da Silva e Dilma Rouseff, Padilha disse que sua série não quer tomar partido.
"A Lava Jato conseguiu alguma coisa, parte do mecanismo foi punido (...) mas o sistema político brasileiro está feito para um darwinismo no sentido inverso, onde a seleção é entre os piores", apontou.