A pernambucana Julia Konrad guarda várias paixões no coração: o Recife, Buenos Aires (cidade onde viveu por vários anos), a família, a música e seu trabalho como atriz.
Em maio de 2014, ela debutava na então recém-lançada trama das sete da TV Globo, Geração Brasil. Na sua estreia televisiva, vivia Jana, uma pernambucana que comandava o vocal na banda Nevagabeat e dividia a cena com outros dois estreantes em telenovelas: Johnny Hooker e Samuel Vieira, recifenses como ela.
De lá para cá, a jovem tem escalado os degraus profissionais com segurança e sem pressa nenhuma de galgar posições, preferindo aproveitar cada papel que surge como se fosse sempre o maior desafio de sua carreira.
Desafios como o que lhe ofereceu a diretora Monique Gardenberg ao lhe entregar o papel de Celeste, no longa Paraíso Perdido, em cartaz nos cinemas da cidade. Em entrevista ao repórter Robson Gomes, ela fala sobre a atual fase.
JORNAL DO COMMERCIO - Julia, você teve contato com a arte muito cedo, aos 10 anos. Existe algum marco zero que te despertou para a atuação ainda pequena?
JULIA KONRAD - Tenho lembranças desde pequena, na infância, quando eu já me via interessada pela arte. Minha mãe até fala que eu implorava para fazer balé antes dos três anos de idade. Lembro, também, que eu tinha um piano de brinquedo em casa onde eu adorava ficar tirando música e depois comecei a estudar. Quando criança, eu gostava muito de replicar os diálogos dos filmes da Disney com as minhas bonecas. E o engraçado é que quando minha mãe entrava no quarto, ela pensava que a TV estava ligada, mas era eu conversando com os brinquedos. (risos) Aos dez anos, no colégio de Buenos Aires que eu frequentava, existia um departamento bem forte de arte, além de lá ser obrigatório estudar música, teatro, entre outras formas de expressão artística. Então o meu contato com a arte sempre foi algo constante e que faz parte de mim.
JC - Você é uma atriz de sangue pernambucano. O que você leva deste Estado para a tua vida pessoal e profissional?
JULIA - É muito engraçado porque eu nasci no Recife, fui embora cedo, com 10 anos, mas o Recife é algo muito latente. Nascer em solo Pernambucano faz com que levemos uma raiz muito grande dentro de si. Até hoje me encanto pela cultura da nossa cidade, pois temos, em todas as áreas, artistas muito talentosos e incríveis, seja nas artes plásticas, músicos, cineastas. Hoje moro em São Paulo e, por incrível que pareça, tenho, aqui, muitos amigos recifenses. Sinto que somos um clã que se acompanha, e o jeito como interpreto as coisas, para mim, tem bastante a ver com as influências do povo recifense. Me sinto em casa quando estou aí ou perto de um conterrâneo.
JC - Você tem vários trabalhos no currículo, no teatro e no cinema, fora do Brasil. Qual a diferença mais latente para o ofício de ator aqui e no exterior?
JULIA - As diferenças maiores dos trabalhos feitos fora do Brasil e aqui, é que lá fora algumas questões são mais burocráticas, com uma organização extrema. Por exemplo, se você tiver uma gravação marcada em um horário, e chegar pontualmente, consideram que você já está atrasado. É necessário chegar uns quinze minutos antes. Mas esse é o jeito que se trabalha no exterior e funciona bem. Porém no Brasil eu acredito que temos um pouco mais de instinto na forma como a gente produz arte, mas por um lado isso pode atrapalhar a logística, porque é difícil planejar o instinto, né? No entanto, sinto, também, que por outro lado o trabalho no Brasil tem um enriquecimento muito grande pelo lado emotivo que possuímos de forma bastante peculiar. Lá o profissionalismo é absurdo, e isso ajuda muito, porém aqui, além do profissionalismo e seriedade, temos o improviso, que nos possibilita descobrir, e isso pode ser muito bom na hora de atuar.
JC - A Ciça, de Malhação, é uma personagem que marcou o seu nome na televisão. Foi uma experiência marcante para você enquanto atriz?
JULIA - Com certeza. A Malhação foi um dos trabalhos que mais me fez pensar sobre o oficio e a profissão de atriz. Embora eu já tivesse feito novelas antes, a Malhação tinha um ritmo mais acelerado, além de ter sido uma oportunidade de grande aprendizado. A Ciça era muito intensa, um grande papel que fiz na época, que deu voz a assuntos delicados, mas importantes, como a violência contra a mulher. Existia uma responsabilidade, em levar ao público jovem, temáticas tão relevantes, e por isso considero uma experiência muito rica.
JC - Além de atuar, sua vida profissional passa pela música. Você já pensou em levar essa carreira mais a sério?
JULIA - Sim, penso em levar a música mais a sério. Aliás, tenho alguns projetos musicais e até a intenção de, logo mais, gravar um clip. Mas por enquanto está tudo no forno e não consigo adiantar muito.
JC - Você está no ar na série 1 Contra Todos (Fox), dando vida a uma guerrilheira que fala espanhol, usa revolver e é filha de traficante. Qual aspecto da personagem mais te provocou neste trabalho?
JULIA - Em 1 Contra Todos, minha personagem, a Pepita, é uma mulher adulta, com filho de seis anos. Também é muito guerreira, que pega em armas e defende a família. Ela não aceita que o pai seja traficante e batalha para que ele saia dessa vida, pois é contra o crime. Esse é meu primeiro grande papel adulto, que me possibilitou sair um pouco do lugar de jovem, menina, por isso também foi algo fascinante, porque interpreto uma mulher feita, muito determinada. E o que me instiga nesse trabalho, também, é a possibilidade de fazer cenas cheias de adrenalina, como as de explosões por exemplo e, claro, ter a chance de falar espanhol, idioma que amo e que faz parte de mim devido aos anos vividos na Argentina. Além disso, fazer um trabalho de ação é apaixonante para qualquer ator.
JC - Você também está gravando a série (Des)Encontros [Sony], que mexe com tua vida pessoal por algumas cenas serem rodadas em Buenos Aires, onde passou parte da infância e adolescência. Qual a melhor lembrança que você tem desse período?
JULIA - (Des) Encontros foi um grande presente. O diretor Rodrigo Bernardo viu meu material e me convidou. Inicialmente eu iria fazer outro episódio, mas fiquei com o de Buenos Aires, e isso foi tão incrível porque o Rodrigo não sabia da minha ligação com a cidade. Até que chegando, no dia da gravação, vi que minha primeira cena era em frente a “Ponte da Mulher”, exatamente o ponto onde meus pais tinham o restaurante na época em que moramos lá. Foi um momento muito especial que me trouxe um sentimento de estar na hora certa e no lugar certo. Minha grande lembrança de Buenos Aires são os amigos, que desde a escola se tornaram uma verdadeira família. Formamos laços muito fortes, de irmandade. Continuo tendo contato com o pessoal e sempre que posso vou visitá-los. Minha lembrança mais especial, de fato, são essas pessoas que cruzam nossos caminhos.
JC - Podemos ver o seu lado cantora nas telonas no filme Paraíso Perdido. O que você tem a dizer sobre sua personagem?
JULIA - Paraíso Perdido é outro trabalho especial que me orgulho muito de participar. O convite da Monique Gardenberg, quem admiro muito, me deixou muito feliz. O filme fala sobre as lutas de uma família nada convencional, das batalhas que enfrentamos para encontrar o que chamamos de felicidade. Minha personagem, a Celeste, inicialmente, não cantava, mas depois a Monique adicionou cenas assim no roteiro, e isso foi incrível porque uniu duas paixões minhas: a música e a interpretação. Além disso, minha personagem sofre com o abandono da mãe, que a deixou após a traição do marido, algo que acomete a Celeste também, pois é traída pelo namorado e fica grávida. Então imagina o tamanho do conflito? Ter, ou não, esse filho? É uma narrativa profunda e muito existencialista.
JC - Existe algum personagem que a Júlia Konrad não faria?
JULIA - Eu faria qualquer personagem, pois todo mundo tem o seu lado para contar, o seu humanismo. Pensando por alto, de fato, não há algo que eu não faria. Como artista, temos que estar à serviço da história a ser contada, mesmo que você não partilhe dos mesmos valores do seu personagem, e vice-versa.
JC - Diante de uma vida tão dedicada à arte, qual a maior lição que este ofício te trouxe até hoje?
JULIA - A maior lição é o trabalho em equipe, que para mim é um trabalho em família. Cada um, com sua função, torna mais coeso um projeto. Se num set todos estiverem alinhados, com certeza, tudo fluirá. Um ambiente de família, onde todos estão curtindo o que faz, gera trabalhos inesquecíveis. Nesse último ano tive a oportunidade de trabalhar com pessoas incríveis. E em todos esses trabalhos fui muito bem acolhida. Quando estamos dispostos a aprender, não só trabalhar, crescemos muito. Crescemos juntos!