Fernanda Young e os 15 anos sem a série 'Os Normais'

Autora da série junto com Alexandre Machado conversa com o Jornal do Commercio sobre o programa protagonizado por Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres
Robson Gomes
Publicado em 09/10/2018 às 0:15
Autora da série junto com Alexandre Machado conversa com o Jornal do Commercio sobre o programa protagonizado por Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres Foto: Foto: Bob Wolfenson/Divulgação


Na última quarta-feira (3), completou-se 15 anos que a série Os Normais, da TV Globo, exibiu seu último episódio na emissora carioca. Mas o sitcom que contava a vida de Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) permaneceu no imaginário do público até hoje.

Escrito pelo casal Alexandre Machado e Fernanda Young, o Jornal do Commercio procurou a autora carioca para ela relembrar o seriado, que segue sendo reprisada pelo canal fechado Viva, e deixou muitas saudades. Confira.

ENTREVISTA // FERNANDA YOUNG

JORNAL DO COMMERCIO – Fernanda, há 15 anos o episódio Terminar é Normal encerrava o ciclo da série Os Normais na televisão. Mas voltemos ao começo: em que momento surgiu a primeira ideia do seriado?
FERNANDA YOUNG – Eu e Alexandre (Machado, marido e autor) somos aquele tipo de pessoa que os outros consideram esquisito. Quisemos mostrar que as pessoas normais são tão esquisitas quanto nós. Ou mais.

JC – Você e o Alexandre sempre consideraram que Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres como co-autores do seriado. Rui e Vani foram personagens criados especialmente para eles?
FERNANDA – Pediram um programa para o Luiz Fernando estrelar. Criamos o Rui, sim, com ele em mente. Mas o nome da Fernanda só surgiu um pouco mais tarde, por sugestão aliás do Luiz. O fato é que o programa não seria o que foi sem eles dois.

JC – Em três anos no ar, foram 71 episódios. Era um processo fácil de escrita? Qual episódio foi marcante para você escrever, seja pela dificuldade ou até mesmo a facilidade?
FERNANDA – Era preciso muita disciplina, pois éramos só nós dois escrevendo. Aos poucos, o processo de criação foi se misturando com o nosso dia a dia, e já não dava para separar o momento em que estávamos criando o programa e o momento em que não estávamos. Convivemos intimamente com Rui e Vani por três anos. E foi altamente prazeroso. Mas nunca foi fácil.

JC – A série ainda rendeu dois filmes que juntos arrastaram mais de 5 milhões de espectadores aos cinemas. Havia fôlego para mais continuações?
FERNANDA – Acho que paramos no momento certo. Tanto que a série é lembrada e assistida até hoje. Às vezes, saber parar é tão importante quanto saber começar.

JC – Mais que uma série de comédia, Os Normais era uma divertida crítica ao cotidiano de pessoas comuns. Na sua visão, qual foi o “legado” que a série deixou no gênero humorístico?
FERNANDA – A comédia de identificação, onde você não ri dos outros, você ri de si mesmo. E a série mostrou que o Brasil podia fazer sitcoms sem precisar copiar dos americanos. E também que o humor não precisa ser berrado, nem precisa de bordões.

JC – Em tempos de politicamente correto, você acredita que Os Normais faria o mesmo sucesso hoje, 15 anos depois?
FERNANDA – Sempre tentamos testar os limites da comédia. Hoje, os limites estão mais reduzidos. Mas nunca ofendemos ninguém com o nosso humor. Eu e Alexandre não somos preconceituosos, então nossas piadas nunca brincam com preconceitos. Mas era, sim, um humor libertário, e hoje a liberdade às vezes é mal interpretada.

JC – Qual foi o maior ensinamento que a série te trouxe enquanto autora?
FERNANDA – Que a televisão tem uma força que nenhum autor pode desprezar.

JC – 15 anos depois, é “normal” o público ainda sentir nostalgia pela série? Você sente falta também?
FERNANDA – “Sentir falta” dá a entender que eu gostaria que a série voltasse. Acho que ela cumpriu o seu papel e qualquer tentativa de recriá-la poderia estragar o que o que a série tinha de melhor: a novidade. Mas fico feliz que as pessoas tenham saudade de Rui e Vani. Poucos personagens conquistam o coração do público dessa maneira, a ponto de serem lembrados 15 anos depois.

JC – Você acabou de lançar o livro Pós-F: Para além do masculino e do feminino. Pode contar um pouco sobre a obra? Pretende fazer algum lançamento no Recife?
FERNANDA – Recife está nos meus planos. Adoro a cidade e meus leitores pernambucanos, que são sempre especialmente inteligentes. Pós-F é meu primeiro livro de não-ficção. Dou a minha atual visão sobre o conflito dos gêneros, que é bem diferente da que eu tinha na época de Os Normais.

JC – Nessa frenética corrida eleitoral nas redes sociais, na sua visão, o que não tem sido normal de ver?
FERNANDA – Respeito. As pessoas piram nas redes sociais. Ofendem e agridem qualquer um que ouse dar sua opinião. Mas não podemos deixar que isso nos faça calar.

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