Quantas vezes você já não leu, em algum post patrocinado do Facebook, um coach alertando que as profissões estão por um fio e que todo mundo deve se preparar para o que o futuro nos reserva? O fato é que o tempo, esse senhor inexorável, vai deixando para trás um sem fim de coisas, entre elas profissões que um dia foram essenciais. Esta é uma das ideias que move a série de TV Nosso Ofício, um resgate das profissões a um passo da extinção, mas que ainda resistem, bravamente, pela teimosia e amor dos seus últimos remanescentes.
Elaborada ao longo dos últimos três anos pela Rima Produções e a Ateliê Produções, a série teve seus três primeiros capítulos exibidos na TV Pernambuco, em dezembro do ano passado. Para acompanhar a exibição dos vídeos, dada a riqueza de cada um dos episódios, com a história das profissões e de seus artífices, as produtoras criaram uma mostra que mistura fotografia e artes plásticas, inaugurada inicialmente em Triunfo, no Sertão do Estado, e que nesta quinta-feira (28/3) chega ao Recife.
A partir das 19h, o Sesc Casa Amarela (na Av. Norte Miguel Arraes de Alencar, 4490, na Mangabeira) abre a exposição Nosso Ofício, com curadoria de Séphora Silva e Victor Jucá, que traz fotografias e instrumentos de trabalhos que remetem às profissões dos primeiros entrevistados. A exposição fica em cartaz até o dia 24 de maio e os visitantes ainda poderão assistir a vídeos e pegar um fanzine editado com poemas do jornalista Ricardo Mello, um dos roteiristas da série, ao lado de Rafael Marroquim, e gravuras assinadas por Cezar Maia, Mateus Samico e Matheus Barbosa.
A cineasta pernambucana Tuca Siqueira, que dirige a série, vai acompanhar a exibição dos episódios O Relojoeiro e o Tempo e A Circense e a Paixão e bater um papo com seus personagens, o relojoeiro Seu Souza e a artista circense Tita. “Foi muito bacana acompanhar cada um deles e também experimentar um modo de produção. A série passou para 16 capítulos, com exibição a partir do segundo semestre, na TV Futura. O foco é nacional e a gente ampliou a geografia e o cenário. A diversidade de sotaques é bem grande, com personagens que vivem no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará e Ceará”, explica Tuca, que ainda está finalizando a série.
Cada episódio de Nosso Ofício tem 26 minutos. Em cada um, temos, de um lado, a profissão em destaque, com a história do profissional contada in loco, e do outro, um corpo de entrevistados que traduzem um conceito ligado à atividade – como o relojoeiro está ligado ao tempo, o circo à paixão e o bodegueiro à confiança. Nos episódios mais recentes foram entrevistados profissionais de que pouca gente ouviu falar (dependendo da região), como o motorneiro, que só existem por causa dos últimos bondes em atividade no Brasil, como o que trafega pelo bairro de Santa Tereza, no Rio. Em outros, os personagens são um tipógrafo, um alfaiate, um amolador de facas, uma vendedora de ervas, um fotógrafo lambe-lambe, um consertador de brinquedos e até um tocador de sinos, entre outros.
“Olhar para essas profissões é uma maneira de questionarmos o modo em que vivemos, sempre lutando contra a opressão do tempo. Foi uma experiência intensa e uma reflexão permanente sobre o tempo e como nos encaixamos nele”, reflete a cineasta, que viveu também um forma diferente de produção com a série.
De acordo com Tuca, a participação de equipes locais em cada cidade onde os episódios foram gravados foi também um forma de conhecimento. “Viajei apenas com Felipe Lima, o diretor de fotografia. Em termos de labor técnico, foi uma experiência enriquecedora em muito sentidos. Essa troca, vivenciada a partir de equipes de cada lugar, é algo que deve ser continuado”, afirma.