Diomedes, HQ de Lourenço Mutarelli, de volta às livrarias

O personagem clássico dos quadrinhos nacionais volta às prateleiras em edição que reúne todas as suas histórias
Diogo Guedes
Publicado em 22/07/2012 às 6:35


“Por mais que as embalagens de cigarro alertem que o Ministério da Saúde adverte que fumar é prejudicial à saúde, foi justamente um cigarro que salvou a minha vida”. É assim, de forma mordaz, que começa um dos volumes da trilogia Diomedes (Quadrinhos na Cia, R$ 59, 432 páginas), do quadrinista e escritor Lourenço Mutarelli, lançada agora (finalmente) em edição completa. Clássico dos quadrinhos alternativos nacionais, foi uma experimentação do autor dentro das histórias policiais de que ele tanto gostava – mas, claro, com Mutarelli, isso nunca seguiria por um caminho convencional.

A história começou a ser publicada em 1999, apresentando Diomedes, um policial aposentado, beberrão e dono de um estranho senso de humor, que procura solucionar casos para complementar sua precária renda. Não é um herói nobre e tampouco um anti-herói minimamente charmoso, ainda que, para um cliente, finja compromisso com a verdade: “Sou detetive porque não admito a mentira”.

Como toda história de detetive, essa começa no seu escritório, com um novo caso: um cliente precisa encontrar o mágico que o deslumbrou na sua infância, o renomado Enigmo. “Um mágico é a única criatura na face da Terra que tem o direito de desaparecer”, explica uma das pessoas que Diomedes procura. O impressionante ilusionista, junto com o detetive, é o fio da meada que une todos os volumes da história, mesmo estando sempre ausente.

Os personagens e diálogos que vão sendo inseridos na história mostram, indiretamente, a ironia (ou autoironia) e o gosto pelo absurdo tão caro a Mutarelli. Mas, no fim, ele não se furta de inserir questões pessoais – marca de seus quadrinhos – e chega até, em uma nota no fim do livro, a confessar que a inspiração para o personagem e para a história foi o seu próprio pai, delegado de polícia. Ele discutia os casos com o filho, impressionando-se com a natureza humana e com as fotos da perícia de corpos mortos, belas em sua morbidez.

“Eu pensava no glamour mostrado nos filmes e na literatura policial e pensava nesses homens, como meu pai, nesses seres que simplesmente trabalhavam como policiais. Pensava no meu pai chegando em casa, pensava nos seus pequenos sonhos... inalcançáveis... pensava no quanto a realidade se distanciava da ficção”, diz. No mesmo texto, ainda confessa que o primeiro volume, O dobro de cinco, era pensado como a história de Enigmo, e não Diomedes, que assumiu o protagonismo.

Só que, se continua existindo um personagem em declínio, um fracasso autoirônico como Diomedes, um personagem típico de Mutarelli, há também espaço para um enredo mais convencional, divertido. O quadrinista já havia afirmado que havia feito Diomedes para criar uma história que gostaria de ler. Mesmo que o divertido para o autor seja a anedota fora de hora, a tragédia cotidiana da realidade. Como diz em uma frase no livro: “A própria vida é um tipo de piada, e é fácil saber quem não a entende: basta olhar quem não está rindo”.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio deste domingo (22/7).

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