No campo literário, normalmente um dos menores orçamentos das pastas de cultura, a principal crítica diz respeito ao abandono das bibliotecas públicas. O professor do Departamento de Letras da UFPE Anco Márcio Tenório Vieira comenta que as bibliotecas municipais hoje funcionam como meros “depósitos de livros”. Para os presidentes de entidades de escritores, como Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras, e Alexandre Santos, da União Brasileira de Escritores - Seção Pernambuco, é preciso ampliar o número de espaços existentes para os livros e dialogar com a classe.
"Acredito que bibliotecas setoriais espalhadas por diversos bairros podem surtir um excelente efeito multiplicador. Prêmios e oficinas fortalecem o apetite pelo livro. Para se apreciar alguma coisa é preciso antes conhecê-la. E estou segura de que a mediação da leitura será sempre eficaz quando bem planejada e divulgada", defende Fátima Quintas. Já Alexandre Santos diz que literatura atualmente amarga "uma sensação de abandono". Segundo ele, é preciso ainda fortalecer o papel do Conselho de Cultura, ouvir as entidades dos escritores e promover mudanças no Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), tornando-o um Fundo de Cultura.
Outra proposta, citada pelo editor Tarcísio Pereira e pelo jornalista Fábio Lucas, é a de priorizar a difusão nas bibliotecas das obras de escritores pernambucanos. "Pode ser valorizado o autor pernambucano, sem ufanismo exacerbado, mas apenas dando o devido destaque para os nossos escritores", explica Fábio Lucas. "Precisamos que a exemplo de Serra Talhada, a Prefeitura adquira livros de autores da cidade para colocar nas bibliotecas de bairros e nas bibliotecas das escolas da rede Municipal, para que a comunidade tome conhecimento dos novos autores que só chegam ao conhecimento do público depois que ganham prêmios no sul do país", indica Tarcísio.
O escritor e jornalista Samarone Lima destaca que é preciso equipar e promover atividades de mediação de leitura. "Acho que um belo desafio é oferecer à população do Recife, principalmente a mais pobre, bibliotecas boas, confortáveis, com acervo e mediação de leitura. Isso não custa caro e o efeito é imediato", aponta. “Depois que esses jovens se tornam leitores, o processo é irreversível”.
Para o jornalista e crítico literário Cristiano Ramos, um dos problemas do setor é a escassez de recursos. "Não basta choramingar por dinheiro, é precisa mostrar que a literatura pode não só trazer enriquecimento cultural à cidade, mas também proporcionar ações de visibilidade, que multipliquem os resultados e rendam efeitos políticos positivos para a administração pública", opina. “Mais do que tudo isso, porém, é preciso priorizar a coordenação, o diálogo entre as iniciativas, para que os poucos recursos não se percam em ilhotas de ações pontuais e de pequena reverberação”, expõe Cristiano Ramos.
Outro ponto crítico são os prêmios literários. Para o poeta e editor da Moinhos de Vento Fábio Andrade, os valores das honrarias são baixíssimos, de R$ 2 mil a R$ 3 mil, a divulgação é pequena e as obras terminam sendo lançadas mais de dois anos depois. Anco Márcio concorda: "Concurso literário já existe, o que é vergonhoso é o valor pago aos premiados. É difícil o Concurso se firmar nacionalmente com o que é pago. Sem falar na má distribuição das obras premiadas e editadas".
Fábio Andrade e Anco Márcio questionam ainda a ausência de uma política editorial na PCR. “Uma área que deve ter um incentivo maior é a de publicações; existe uma falta de apoio para os escritores da capital, muitos hoje estão sofrendo com publicações pagas, a demanda já superou a espera por grandes editoras. A melhor sugestão seria que a Gerência de Literatura assumisse uma média X de publicações e fizesse uma boa divulgação dessa parceria, que ganharia destaque nos próprios festivais da prefeitura”, opina o escritor e jornalista Adriano Portela.
Anco Márcio explica que uma possível inspiração para essa área seria a Companhia Editora de Pernambuco, criando um conselho editorial e um programa de publicação de obras clássicas ou novidades de autores contemporâneos. “É preciso atender aos vários estilos literários”, ressalta Fábio Andrade.
As poetisas e declamadoras Mariane Bigio e Susana Morais, do grupo Vozes Femininas, sugerem que a literatura deve ser integrada ao calendário de festividades da PCR, em meio ao Carnaval, ao Ciclo Junino e o Natal. "Um calo, não só para nós da literatura, mas para todos os artistas que prestam serviços ao poder público, é a questão dos pagamentos. O futuro prefeito precisa rever os trâmites burocráticos desta etapa da prestação de serviços e entender que cachê não é poupança", dizem as duas autoras.
Tarcísio Pereira ainda destaca a necessidade de revitalizar a Praça do Sebo. “A revitalização da praça do Sebo é urgente. É preciso disciplinar a área dos bares e lanchonetes. Os livreiros precisam de apoio na divulgação do espaço, com um projeto permanente que ultrapasse gestões. A praça pode ser uma atração turística. Basta apenas uma atenção dos gestores. Livreiros e bons livros não faltam”, afirma.
Outro desafio que o novo prefeito deve enfrentar é o de fazer o Conselho de Cultura uma entidade realmente consultiva. "O prefeito do Recife precisa, por exemplo, respeitar o Conselho de Cultura (que vem funcionando como peça decorativa e não consegue aconselhar) e ter no representante do seguimento de literatura daquele conselho uma espécie de conselheiro para o setor", destaca Alexandre Santos.
O Festival A Letra e a Voz, por sua vez, é uma defesa unânime: os escritores e editores pedem sua ampliação e fortalecimento. “Realizamos muitos eventos (a exemplo do Festival de Literatura, que hoje é uma marca no calendário cultural da cidade), mas pouco fica desses eventos. Precisamos registrá-los em livros, CD, DVD para que aqueles que não estavam presentes possam ter acesso ao que ocorreu e foi debatido”, indica Anco Márcio.