ATENA – O filósofo alemão Jürgen Habermas, um dos principais pensadores do pós-guerra, alertou nesta terça-feira para o recrudescimento do "populismo" na Europa e pediu que a política "das elites" mude no continente, durante o 23º Congresso Mundial de Filosofia, realizado pela primeira vez na Grécia, país onde a disciplina nasceu.
"É preciso se afastar do projeto elitista elaborado pelas políticas atuais na Europa e envolver os cidadãos" no diálogo sobre a Europa, disse aos 84 anos um dos expoentes da Escola de Frankfurt.
"Se não, os partidos populistas vão vencer as eleições europeias" em maio de 2014, advertiu, durante entrevista coletiva durante o congresso, que desde a segunda-feira reúne centenas de filósofos de todo o mundo em Atenas.
"Não sou político, mas acho que o populismo é perigoso. O nacionalismo não só pertence aos séculos XIX e XX, mas está presente em todos os países", advertiu Habermas, um dos grandes pensadores das ciências sociais e autor da teoria da ação comunicativa.
"Na Alemanha", o populismo "está atualmente inativo", mas pode despertar e, por isso, é preciso ser vigilante", alertou este pensador da Europa e teórico do conceito de "patriotismo constitucional", que dissocia cidadania e identidade nacional.
Para o filósofo alemão, nas campanhas para as eleições europeias "só se costumam abordar enfoques nacionais", o que deixa os cidadãos de fora dos assuntos europeus.
"São necessárias reformas institucionais na Europa para possibilitar a participação dos cidadãos. Do contrário, adeus democracia", afirmou.
Ele também criticou o papel da imprensa na "esfera pública", porque, segundo ele, fala unicamente dos "aspectos nacionais e com frequência altera os acontecimentos", provocando "tensões entre os países membros".
Perguntado a respeito das repercussões da crise, Habermas disse que a Europa precisa agir de "forma coordenada para apoiar os países da periferia, como Grécia ou Itália, que precisam de investimentos".
"A crise provoca injustiças exasperantes e os países, sobretudo a Alemanha, que participam de programas de recuperação" nos países em crise, devem assumir suas responsabilidades nas consequências das políticas de austeridade, disse.
Nesta terça, Habermas participou dos trabalhos do congresso, cuja realização em Atenas coincide com os 2.400 anos da fundação da Academia de Platão, local onde o pensador atuou até o fim dos seus dias.
Organizado pela Federação Internacional de Escolas de Filosofia, o congresso, com o tema A Filosofia enquanto busca e modo de vida, teve início na segunda-feira na capital grega e reúne 2.000 participantes de 105 países durante uma semana.