Gerson Conrad, ex-Secos & Molhados, lança fotobiografia

''Certamente João Ricardo assimilou erroneamente a conotação literária 'não importa a intenção do autor, o que importa é a obra', julgando-se a própria obra'', alfineta o autor no livro
da Agência Estado
Publicado em 26/11/2013 às 11:56


Como contar a sua própria história, se um terço dela se recusa a participar da narrativa? É mais ou menos frente a esse dilema que se encontra hoje em dia um dos mais influentes grupos da música pop brasileira (e provavelmente mundial): os Secos & Molhados. Há quase quatro décadas, desde o fim do grupo, dois de seus três integrantes (Ney Matogrosso e Gerson Conrad) não conversam mais com o terceiro elemento, o compositor, violonista e cantor João Ricardo.

Ocorre que Gerson Conrad resolveu contar sua história em uma fotobiografia, Meteórico Fenômeno - Memórias de um ex-Secos & Molhados. Por intermédio da sua editora, Conrad pediu autorização a João Ricardo para publicar as fotos dos três, mas João Ricardo negou. 

“A minha imagem colada à dele? De jeito nenhum! Seria uma estupidez, há 39 anos não nos relacionamos”, afirmou João Ricardo. “Como o livro tem conotações comerciais, e inclusive é usado para me atacar, por que eu autorizaria?”.

O resultado da negativa foi um recurso no mínimo bizarro: por meio de cortes, Photoshop ou outros recursos, João Ricardo virou um fantasma no livro. Ele é mencionado (inclusive na letra de uma música inédita, Direto Recado), mas não há imagens dos três no seu auge. É mais ou menos como se Paul McCartney tivesse vetado a reprodução de sua imagem nos seus anos de Beatles, e os outros o recortassem das fotos.

“Uma pena João, por vaidade ou pouca espiritualidade, ter vetado o uso de imagem dele. Para mim, é uma atitude individualista que desrespeita o grande número de fãs que nos cultua”, lamentou Gerson Conrad. Ambos eram muito amigos. Conheceram-se na Alameda Ribeirão Preto, no bairro da Bela Vista, quando ainda eram garotos, tocavam violão e jogavam pingue-pongue.

Curioso é que Conrad, apesar do imbróglio com João Ricardo, defende que se peça autorização prévia a qualquer biografado para que se escreva um livro sobre ele. “Acho coerente que, seja lá quem escreva uma biografia sobre algum artista, solicite no mínimo uma autorização. Assim como procedi com Ney e João Ricardo”, afirmou.

“Tenho acompanhado as manifestações de Chico, Gil entre outros, sobre essa questão. Minha opinião não difere muito de seus contra-argumentos. João, por exemplo, negou a autorização de imagem, e nem por isso desisti de publicar minha obra. Sempre haverá recursos éticos a serem adotados ou escolhidos para esses casos.”

O caso da fotobiografia de Gerson Conrad pode não ser da mesma natureza da restrição que motiva o debate sobre as biografias não autorizadas, mas é ilustrativo da distorção que a autorização prévia pode causar. “Certamente João Ricardo assimilou erroneamente a conotação literária ‘não importa a intenção do autor, o que importa é a obra’, julgando-se a própria obra”, alfineta Gerson Conrad no livro.

João Ricardo não quer nem saber o que o colega escreve no livro. Diz que Conrad é uma pessoa “totalmente desimportante” e não quer polemizar. “Nem é um livro, na verdade. Parece que é mais uma revista. Para ser honesto, não tenho interesse (em ler)”, afirmou. “É a visão dele, é a versão dele. Eu sou totalmente a favor da liberação das biografias. Não há nada que explique que uma pessoa não possa falar de você, que é um artista, se expõe. Nos Estados Unidos, há milhares de biografias falando mal dos ídolos do rock. Mas o direito de imagem é outra coisa. Os dois saíram do grupo me detonando. Não faço restrições a que falem o que quiserem, mas, se você procurar bem, vai achar uma entrevista deles falando cobras e lagartos de mim quando saíram do grupo, em 1974. Só me falta agora me virem com essa: ‘Posso usar sua imagem para ganhar um troco?’”, disparou.

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