Marcelino Freire autografa romance no Recife

O pernambucano radicado em São Paulo mostra Nossos ossos, sua primeira investida no formato
Diogo Guedes
Publicado em 05/08/2014 às 5:01
O pernambucano radicado em São Paulo mostra Nossos ossos, sua primeira investida no formato Foto: Virgínia Ramos/Divulgação


Como Heleno do seu romance, Marcelino Freire ainda precisava acertar contas com sua terra natal. Era preciso levar o livro – parte dos seus próprios ossos – para Pernambuco. Depois da publicação em novembro do ano passado de Nossos ossos (Record), finalmente o autor de Sertânia vai lançar no Recife a sua primeira narrativa longa. A noite de autógrafos – Marcelino garante, como sempre, que será sem nenhuma formalidade – acontece na Livraria Cultura do Paço Alfândega, a partir das 19h.

Nossos ossos marcou a estreia de Marcelino, já consagrado como contista, no formato do romance. Ele conta que é como se toda a sua obra literária se encaminhasse para isso, como se as narrativas breves fossem a preparação para essa primeira maratona. O livro, de forte carga sentimental, mostra o dramaturgo Heleno em crise dentro da cidade de São Paulo, depois de tomar conhecimento da morte de um antigo amante, um michê. A sua vinda para a capital paulista, a mágoa com o amigo Carlos e a infância em Pernambuco aparecem nesse trajeto de volta às origens.

“É um lançamento com atraso. Finalmente vou conseguir devolver esses ossos para o Recife”, brinca Marcelino. O encontro com leitores é só o começo da noite, que vai continuar com um recital no bar Casa da Moeda, no Recife Antigo, com Luna Vitrolira, André Monteiro, Gleison Nascimento e muitos outros. Segundo Marcelino, o romance é o momento em que a capital pernambucana foi mais protagonista na sua obra. “É um acerto de contas. Eu precisei gritar tudo antes para poder me aproximar do silêncio desse livro. Sinto mais paz nele”, explica.

A receptividade nesses quase nove meses de circulação é distinta. Para Marcelino, a relação dos seus leitores com um romance é diferente: o público acompanhou os personagens por mais tempo. “O romance acaba fazendo parte da família deles. Várias pessoas vinham me dizer que choraram, todos viveram a situação de fazer escolhas erradas e ter histórias extraviadas”, aponta.

Atualmente, Marcelino está adaptando o texto para o teatro, para a montagem do Coletivo Angu. “Nas outras peças, eles mesmos conectaram vários contos meus. Agora, estou com o desafio de criar um formato para essa mesma história. Já pedi socorro a um jovem dramaturgo, Maurício Antunes, que conheci em uma de minhas oficinas”, conta.

A novidade é que o livro também deve ser levado para o cinema. O diretor de curtas Snir Wein leu o livro e pediu para transformá-lo em um longa-metragem. O roteiro será de Marçal Aquino e Paulo Lins, com direção do jovem cineasta. “Wein ficou emocionado, disse que ia filmar de qualquer jeito”, expõe Marcelino.

Em um ano em que mesmo a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) teve dificuldades financeiras para conseguir patrocínio, o pernambucano radicado em São Paulo está cheio de planos para a nova edição da Balada Literária. “O momento é de um inverno na literatura mesmo, a Copa do Mundo foi o álibi. Mas a Balada acontece de toda forma, nem que seja com o capital afetivo”, antecipa. A homenagem neste ano será para Carolina Maria de Jesus e Plínio Marcos, com uma programação voltada para pensar a literatura marginalizada. A abertura terá um show com músicos africanos, comandados por Fabiana Cazzo. Wilson Freire, Jomard Muniz de Britto, André Vianco, Raphael Montes e Santiago Nazarian são alguns dos convidados.

Marcelino tomou gosto pelo romances: está com duas ideias latentes na cabeça. Ver qual delas funciona e “vai vingar como linguagem”, só no final do ano, nas suas férias. Tem feito contos, também. “Mas até eles estão maiores, com fôlego”, confessa. De todo jeito, lançamentos, só em 2016. “Nem sempre tenho tanto o que dizer assim. Ainda estou empanturrado com Nossos ossos, como a sucuri que engoliu um cabrito”, explica com bom humor.

Leia mais no Jornal do Commercio desta terça (5/8).

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