Nos anos 1990, com o começo da popularização da internet, a pesquisadora e escritora Maria Alice Amorim se deparou com O Marco Cibernético Construído em Timbaúba, uma peleja virtual entre os poetas José Honório e Américo Gomes. A partir desse folheto, que colocava em termos claros a relação entre cultura popular e a internet, ela começou a estudar a presença das pelejas, cordéis e desafios dentro do ambiente virtual. O interesse pelo assunto terminou virando uma pesquisa de Doutorado na PUC-SP, que agora é publicada em livro.
Pelejas em Rede: Vamos Ver Quem Pode Mais é lançado neste sábado (4/5), a partir das 11h, no Canto Sertanejo, no Mercado da Madalena, com recital de Allan Sales. Editado com recursos do Funcultura, o volume observa o fenômeno dos poetas populares conectados nos anos 1990 e 2000.
“Foi um bom desafio falar do cordel hoje, ver como ele se desenvolve para manter elementos da chamada poética de tradição enquanto se insere no mundo atual e na linguagem de agora. Sem essas mudanças, nenhuma cultura se mantém viva, porque a cultura é um processo, não uma forma”, aponta a pesquisadora, responsável pelo site Acervo Maria Alice Amorim, com informações de obras de literatura de cordel.
Para Maria Alice, as pelejas virtuais permitiram novas conexões entre os poetas, tornado a criação de versos menos solitária. “Além disso, as pelejas costumavam ser entre dois poetas, seja no repente ou nas sambadas. Na internet, existem pelejas com dois, três, até cinco vozes, que instauram uma polifonia”, destaca. “Isso também faz com que alguns paradigmas conservadores da poética popular se diluam, e ela se torna mais plural, pensando sobre questões de gênero, de raça.”
A autora ainda destaca que faz pouco sentido defender uma pureza da tradição do cordel, porque o próprio gênero, nascido nos países ibéricos, tomou caminhos próprios por aqui. Além disso, considera um “clichê” que se associe a poética popular à pobreza e à baixa escolaridade. Sua pesquisa se encerra em 2012, mas ela tem notado que outros recursos da internet têm sido utilizados hoje em dia, como o Whatsapp, que permite uma difusão ainda mais rápida e ampla de versos. “Os jovens estão antenados, ajudando essa poesia a se tornar menos conversadora”, finaliza.