O poeta e jornalista Marcelo Mário de Melo nunca separou a sua escrita de seu ativismo político: não é por acaso que fala, no seu novo livro, de uma “coisa múltipla/ mutante/ coceira/ fogo/ incessante/ chama que se chama/ poesia militante”. Se o assunto sempre esteve presente na sua trajetória, que conjuga arte e política sempre juntas, a iminência de um cenário político ainda mais radical na perspectiva da eleição de Jair Bolsonaro o fez se voltar com ainda mais urgência à escrita. Assim, ainda antes da realização do primeiro turno, Marcelo começou a criar os poemas presentes em AdVersos Resistentes (MMM Produtos Culturais), livro que lança nesta sexta (24), durante o seu aniversário de 75 anos.
O evento acontece no Porto Digital a partir das 19h, com conversa com o prefaciador do volume, o professor Michel Zaidan, e microfone aberto para recitais. Preso político durante a ditadura, Marcelo se volta ao longo de 91 textos ao hoje, pensando o papel da esquerda como resistência e reconstrução. Além disso, nunca deixando o humor de lado, até por acreditar que, “em tempo/ de treva e tédio/ poesia e humor/ são sempre/ um bom remédio”.
AdVersos Resistentes é dividido em três partes: Fios e Desafios, com esses textos feitos diante da expectativa pela eleição de Bolsonaro; O Fio da História, que recorda a luta de Marcelo e seus companheiros contra a repressão da ditadura, e Desembaraçando os Fios, que busca pensar novos caminhos políticos. Boa parte dos versos escritos são dedicados a colegas escritores e militantes políticos de antigas e novas gerações.
“Eu até hoje sigo as recomendações do Detran: sempre à esquerda, e é proibido ultrapassar pela direita”, brinca o poeta. O livro também é uma forma de comemorar 59 anos de militância, lutando contra opressões da direita e também contra os autoritarismos de esquerda, como o stalinismo.
Em um texto cheio de aforismos, intitulado Fundamentos Programáticos, ele brinca com seus dogmas nada dogmáticos. “Poesia, prazer, amizade, humor, na conjuntura que for” e “Dê voto sem ser devoto”. Enquanto fala do otimismo de que tudo sempre pode piorar, também destaca a necessidade de uma esquerda que se mantenha aberta, pois “o sol não ilumina recintos fechados”. Por fim, a sua máxima é o que conduz o humor insistente e político dos seus versos: “A cada conjuntura ruim, sempre se faz uma piada melhor”.