O verdadeiro luxo é feito para seduzir os cinco sentidos, oferecer uma experiência completa, na qual cada detalhe conta muito. Dessa forma, não é de se estranhar que a mostra Mademoiselle Privé, que propõe uma imersão no universo artístico de Coco Chanel e de Karl Lagerfeld, seja extremamente sensorial. Inaugurada nessa segunda (12/10), em Londres, a exposição ocupa os três andares da Saatchi Gallery, situada em um dos bairros mais sofisticados do Inglaterra. Em exibição, estão vestidos da alta costura, joias históricas, instalações contemporâneas, fotografias de moda e um curta-metragem, dirigido pelo próprio Karl - que funciona como uma espécie de catarse bem-humorada e é o ponto alto da mostra. Boa parte do que se vê ali é digital e interativo. O visitante é convidado a baixar um aplicativo e, através do celular, tem acesso a imagens como a reconstituição do apartamento da estilista francesa, na Rue Cambon, em Paris, tal qual era antes de ela morrer.
"Nossa intenção não foi fazer um programa tecnológico, mas sim usar todas as ferramentas disponíveis para contar a história da melhor forma possível", diz Bruno Pavlovsky, CEO da grife. "Se nós queremos falar com a nova geração de consumidores e de fãs, usar tecnologia e meios digitais precisa ser algo normal."
A realidade virtual, usada agora como se fosse um game da Chanel, recria ambientes emblemáticos e explica momentos-chave da história da estilista, que cresceu em um orfanato, colecionou amantes ricos, fez fama com seu estilo totalmente avant-garde e livrou a mulher do início do século passado dos espartilhos, transformando o guarda-roupa feminino para sempre.
Na mostra, a história toda começa antes mesmo da entrada, com um jardim selvagem inglês, criado pelos paisagistas britânicos Harry e David Rich - inspirado em um de seus namorados mais famosos, o milionário Arthur "Boy" Capel. Lá dentro, a primeira sala traz a famosa escadaria cercada por espelhos no piso térreo, que abrigava o ateliê da estilista na década de 30 e serviu de cenário para inúmeros desfiles. Já o segundo andar, no qual ficava o apartamento que Chanel viveu e decorou com refinamento, pode ser "visitado" através de imagens em 3D, disponíveis no aplicativo. A brincadeira faz com que o visitante se sinta recebido na sala de estar.
No espaço seguinte, uma instalação com uma gaiola gigante exibe a versão ampliada de um colar em formato de estrela. A peça faz parte da coleção de Alta Joalheria Bijoux de Diamants, criada por Coco em 1932 e relançada recentemente no desfile de alta costura da marca. Ícones como o vestido preto e branco, a camélia e o leão são explorados em uma sala com totens, enquanto explicações virtuais aparecem disponíveis no aplicativo, assim como frases e profecias de Chanel. "Moda não é moda se não atinge as ruas. A moda que permanece no salão não tem mais relevância do que uma fantasia", lê-se em uma dessas.
Alguns vestidos lindos de festa, com rendas e transparências, assinados por Karl, são expostos por hastes de luz de led, que iluminam todo o interior das peças (afinal, o luxo se percebe nas costuras e no acabamento). Nesta parte da mostra, também são apresentadas fotos feitas pelo próprio Karl Lagerfeld, que revelam celebridades como Julianne Moore, Kristen Stewart, Lily-Rose Depp e Vanessa Paradis nos bastidores.
Multimídia total, o estilista ainda dirige e atua em um curta-metragem, no qual ressuscita Coco Chanel (morta em 1971) para discutir a relação e o legado de cada um para marca. A atriz Geraldine Chaplin faz o papel de Chanel. "Não podemos esquecer que tudo o que mademoiselle construiu foi na alta-costura. Mr. Lagerfeld criou o nosso poderoso prêt-à-porter. A Chanel que conhecemos hoje é uma espécie de fusão entre os dois criadores."
*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.