Jornal do Commercio: Você escreveu em um texto (clique AQUI para ler) que, durante a estrondosa turnê de Gal Tropical (1979), Caetano entrou no seu camarim aos prantos. O motivo, como você relatou, foi que ele achou o show "careta", e você já não mais a musa que ele ajudava a construir desde Domingo (1967). Com uma carreira marcada por transgressões contínuas, você considera esse momento - de certa ruptura com Caetano e de abraçar a música pop dos anos 80 - um tipo de transgressão?
Gal: Não! Antes do estrondoso sucesso de Gal Tropical, Caetano produziu o Cantar e esse foi o verdadeiro rompimento com a minha estética transgressora. Ele também dirigiu o show Cantar que era lindo. Caetano chorou quando assistiu Gal Tropical foi porque se emocionou. Pergunte a ele. Eu não posso responder por Caetano.
JC: Recanto - um retorno com Caetano e mais um ato de transgressão musical - revive uma pouco da história de vocês, com um teor melancólico sobre a questão de envelhecer. Além das vantagens (amadurecimento, maternidade, etc), o que pesa, o que dói, em envelhecer?
Gal: Envelhecer tem seu lado bom que se chama Maturidade. Eu não me sinto velha de alma. Sinto-me jovem e rejuvenescida. A maternidade é uma das responsáveis por isso e também o trabalho. Tenho muita energia e vontade de fazer coisas.
JC: Como você entende hoje - e até, de certo modo, se relaciona - com as imagens da Gal dos anos 1970, sex simbol que gritava contra uma política dura no País?
Gal: Gosto de ver, lembrar. Muito bom!!!
JC: Cantar ainda é uma possibilidade de transformar uma sociedade? Hoje, o que se pode cantar para mudar o que não vai bem?
Gal: Sempre se pode mudar. Esse é o movimento da vida, da arte. Nada é sempre igual. Tudo muda e devemos sempre lutar para que esse movimento seja contínuo.
JC: Em vários momentos da carreira (Tropicália, Fatal, Índia, Sorriso do Gato de Alice...) você tem uma forte importância política para a história do País. Os registros em vídeo desses momentos - como bem de outros -, no entanto, são escassos (alguns trechos mal-gravados da TV estão no Youtube). Há alguma intenção de recuperar essas imagens para um possível lançamento?
Gal: Leon Hirshman gravou o Fatal em 16 milímetros e gostaria tanto que isso fosse resgatado. Bem que a Universal podia se interessar já que detém os fonogramas deste disco.
JC: Recanto marca um trabalho pontual na sua carreira ou um novo momento experimental daqui pra frente? O que você visualiza para seu trabalho além de Recanto?
Gal: Algo neste caminho.