Há um campo magnético centrado onde Maria Bethânia pisa, uma força emblemática e hipnotizadora capaz de silenciar multidões. O Classic Hall semilotado na noite da última sexta (4), a lembrança do último pouso da “Abelha Rainha” em território pernambucano, em outubro deste ano, e sua brilhante trajetória traçada em 50 anos de carreira são provas do sucesso atemporal da filha de Dona Canô. Ela, reluzente, foi a homenageada da 26º edição do Prêmio da Música Brasileira, em turnê que se encerrou no Recife depois de passar por Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília. A cidade, em contrapartida, mostrou o significado de estar inclusa na rota: o coração pernambucano explode diante da presença de Bethânia.
Desde o momento em que Zélia Duncan, primeira convidada da noite, entrou no palco, foi difícil conter a emoção. "Transbordando de flores", a carioca deu início ao espetáculo com a canção Rosa dos Ventos, de Chico Buarque.
A saída de Zélia trouxe ao palco o ex-Fundo de Quintal Arlindo Cruz, que emprestou sua voz ao samba Apesar de Você, de Chico Buarque. O compositor anunciou sua partida com Sonho Meu, finalizada por João Bosco. O compositor mineiro deu continuidade ao show com sucessos como É de Manhã, de Caetano Veloso.
Quarta intérprete da noite, Camila Pitanga dividiu os holofotes com João Bosco e reafirmou um talento bem além das telinhas. O flerte da atriz com o microfone, capaz de inebriar o público com sua voz e passos de afoxé, não é recente: em 2007, ela chamou a atenção ao fazer um dueto com o Rei Roberto Carlos, cantando Como É Grande o Meu Amor por Você.
A confraternização seguiu com a vertente mais nordestina do show, nas vozes de Lenine e Chico César. O pernambucano e o paraibano, que se revezaram em outras cidades, brindaram conjuntamente no Recife. “Hoje tá todo mundo aqui. Mãe tá aqui. Hoje eu tô cantando pra mãe. Vocês estão aí porque querem”, brincou Lenine.
Filha de Iansã, orixá rainha dos raios e tempestades e celebrada no dia do show, 4 de dezembro, Bethânia foi a última a subir ao palco. Recebida por uma chuva de aplausos, leve, enérgica e radiante, ela contemplou o público com as canções Carcará, O Quereres, Fera Ferida e Explode Coração. Em seu agradecimento, brincou: “Recife me tirou da minha casa, da minha Bahia, do meu acarajé”. A essas alturas, boa parte do público já havia abandonado suas mesas para sentir de perto o calor dos artistas.
Nos bastidores, quem roubou a cena foi o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, que está em tratamento de um câncer de pulmão. Foi cumprimentado com muito amor e satisfação por Zélia, Lenine, Bethânia, Arlindo, João Bosco, Chico César e Camila.