Ela é de Brasília. Mas foi uma música pernambucana que a consagrou no palco da primeira temporada do reality da Globo The Voice Brasil. Sua interpretação singular para o hit Anunciação, de Alceu Valença, na grande final, lhe ajudou a garantir os 39% dos votos populares em dezembro de 2012, quando foi eleita a primeira campeã do musical. De lá pra cá, muita coisa mudou na vida de Ellen Oléria. É bem verdade que o sucesso do programa catapultou o seu nome no meio musical, mas agora, em 2016, longe dos holofotes potentes da emissora carioca e após uma breve passagem pela Universal Music - que gerou o disco Ellen Oléria (2013) - a artista conseguiu produzir um de seus trabalhos mais genuínos e de forma independente: o álbum Afrofuturista.
Em entrevista ao JC, Ellen comemora esta nova fase da carreira: “Tô vivendo uma fase interessante de explorar mais a extensão da minha voz e nos outros instrumentos. Meu trabalho sempre foi autoral na maioria, mas só agora tive segurança para coordenar tudo”, explica a cantora, que teve o disco produzido por Felipe Viegas.
A faixa Afrofuturo, que abre o álbum, revela exatamente essa sonoridade única. O ousado misto das percussões afro com os efeitos eletrônicos é um verdadeiro encontro do passado com o presente, produzindo um som que projeta o futuro. Tudo isso produz um clima convidativo para apreciar as outras 16 faixas que compõem a obra (em sua versão digital).
Além da ousadia nos arranjos, as letras também não passam despercebidas no Afrofuturista, reverberando assim, que Ellen é mais que uma voz marcante para se ouvir: “Neste disco estou fazendo uma conexão com os antepassados para lidar com o presente que, infelizmente, é misógino, classicista e machista”, declarou.
Uma das faixas que chama a atenção é Mandala, que se revela um grito de libertação para as mulheres: “Todas elas sabem da nossa trajetória. Nosso corpos foram, durante muito tempo, objetificados. É pra gente lembrar que somos donas de nós mesmos”, explica. Faixas como Afoxé do Mangue, Forró da Olinta, Areia e Solta na Vida também se destacam no álbum.
Ao longo de seus 15 anos de carreira, Oléria, negra e assumidamente homossexual, enxerga em sua música uma possibilidade de lutar pelos seus direitos: “Da música que a gente veste, tudo é uma questão política. Quem vive numa posição hegemônica não precisa estabelecer um discurso. Quem é branco, não precisa falar de questões étnicos-raciais, porque é tudo universalizado. Nesse disco, quis levar a mensagem, principalmente, do amor”, ressaltou. Sua posição esclarecida, inclusive, fez com que fosse chamada para ser uma das apresentadoras do Estação Plural, da TV Brasil, o primeiro programa comandado e voltado para o público LGBT da TV aberta.
Afrofuturista então, revela uma Ellen Oléria por inteiro, que imprime no timbre único de sua voz e na sua música mais que uma sequência de canções inéditas para ouvir. É necessário (e urgente) refletir sobre elas.