'Eu queria ser dona de casa', revela Gretchen

A cantora, apaixonada por Pernambuco, lança sua biografia nesta sexta-feira (17), na boate Metrópole
ROMERO RAFAEL
Publicado em 17/06/2016 às 6:00
A cantora, apaixonada por Pernambuco, lança sua biografia nesta sexta-feira (17), na boate Metrópole Foto: Foto: Divulgação


De dia ela é Maria Odete; à noite, também. Mas ela já foi muito Gretchen. Hoje à noite, voltará a sê-la. Por uma exceção: na Metrópole, Maria Odete Brito de Miranda sempre será Gretchen – “É um compromisso”, diz ela, que adora a boate e o Recife, onde está para lançar e autografar o livro da sua vida, Uma Biografia Quase Não Autorizada, escrita por Fábio Fabrício Fabretti e Gerson Couto. A carioca de 57 anos, que ostenta o título de Rainha do Rebolado no olimpo das musas já produzidas por esse País, vai gemer e rebolar no palco da Boa Vista ao som de Conga, Conga, Conga e Freak le Boom Boom, performances cada vez mais raras.

A artista vive hoje no Principado de Mônaco, com o marido, o português Carlos Marques – com quem se relaciona há quatro anos –, e duas filhas, de 13 e 6. É dona de casa e mãe. Vive a vida que pediu aos céus. “Eu queria ter feito faculdade e ser dona de casa. Apenas isso. Queria ser anônima, mas a vida me levou para outro caminho”, fala, numa rápida conversa ao WhatsApp.

Num trecho da biografia, ela reflete sobre sua “fuga” para Miami, em 2011, frustrada após um brasileiro fotografá-la trabalhando como garçonete: “Todas as vezes que tentei interromper minha carreira, na esperança de ficar mais privada, longe das câmeras, não demorei a perceber que era inútil, mesmo mudando de endereço ou Estado. Tenho que reconhecer: sou notícia e eles ficam atrás de mim”. Linhas depois, justifica sua estratégia: “Sempre ouvi dizer que era o refúgio dos que buscavam o anonimato. Até Collor morou lá depois que foi escorraçado do País”. Sem Miami, Mônaco tem sido seu paraíso. “São 5% de brasileiros só...”, deixa entender-se.

A cidade-estado soberana, ao Sul da França, oferece a Maria Odete pedras preciosas a uma família, como segurança e bons serviços de saúde e educação. “É difícil comparar com o Brasil, porque lá tudo funciona... Vivendo fora, a gente identifica os problemas daqui”, tenta comparar. Ao país de origem ela volta, aqui e acolá, pra visitar a família; é quando fecha alguns compromissos e revisita a Gretchen adormecida nela e viva nos outros – “(Subo ao palco) por gratidão ao público por tudo o que me deu; acho que tenho essa obrigação”. Por agradecimento, aliás, ela viajou ontem para Bonito, no Agreste do Estado, para se apresentar num circo. Os picadeiros do Brasil sempre lhe foram casas abertas. “Tem coisas que pra mim são muito importantes. Tenho que ir até lá”, conta, antes de pegar a estrada. Voltou ao Recife nesta madrugada.

A capital pernambucana é lar para Maria Odete. À época da mudança para Miami, vendeu todos os bens, exceto um apartamento em Piedade, para ter um lugar onde voltar. “Deixar Pernambuco foi difícil. Era uma contradição. Em Pernambuco tinha refeito minha vida há anos. E aquelas terras de dias ensolarados e praias quentes guardam muitos significados para mim. Estava deixando o lugar que sentia ser minha casa para tentar encontrar a paz”, mandou escrever na biografia. Agora também tem um terreno em Itamaracá, onde em 2008 pleiteou sem vitória o cargo de prefeita. Pretende construir uma casa – “É para reabastecer as energias. Pernambuco está dentro de mim”.

Logo, logo, ela deixa a terra que lhe é casa para ficar na paz que encontrou em Mônaco. Lá, Maria Odete existe sem ter de dividir espaço com Gretchen nem sonhar nada além de ter uma rotina comum, caseira e diurna, de dormir às 21h30. “O que difere as duas é o modo de vida. Gretchen é profissional”, define-se enfática.

Mais para o início da biografia de 238 páginas (o livro estava em 600, quando a editora Ilelis pediu para enxugar) há um diálogo de Gretchen com sua gravadora à época da ditadura. A empresa recomendava que ela não se apresentasse por um tempo, pois os militares consideravam pornografia o que ela fazia. A artista retruca assim: “Acham isso só por causa do meu rebolado, dos meus gritinhos e das minhas roupas?”. A gravadora responde: “Sim, dizem que é fora da moral e dos bons costumes”. “Mas a Gretchen só existe por se apresentar dessa forma!”, Maria Odete encerra assim a conversa, lá nos anos 70, sobre as condições de sobrevivência de Gretchen, a quem ela se refere na 3ª pessoa.

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