FIG 2016: Nação Zumbi incentiva o 'Fora, Temer!' em show apoteótico

Banda tocou para uma Garanhuns lotada que unia diversão com protesto
Bruno Albertim
Publicado em 26/07/2016 às 10:38
Banda tocou para uma Garanhuns lotada que unia diversão com protesto Foto: Fundarpe - divulgação


GARANHUNS - Uma noite de segunda-feira e a Praça Mestre Dominguinhos, com sua capacidade estimada pela Polícia Militar em 40 mil pessoas, já era um oceano de gente. Era esse mesmo o motivo: tocando "em casa", a Nação Zumbi é sempre um clássico das multidões. E, confirmando o tom desta edição do Festival de Inverno de Garanunhus, o tom político deu de novo a nota. Mal começou a apresentação, o guitarrista Lúcio Maia e o vocalista Jorge du Peixe receberam e incentivaram os gritos em coro de "Fora Temer" vindos da plateia. Ficaram quase um minuto engrossando o protesto entre a primeira e a segunda músicas.

Logo no começo, milhares de cabeças pulando na plateia, "Foi de amor" anunciava que o jogo da NZ em Garanhuns estava ganho de véspera. Se o começo do show, com duração de cerca de uma hora e meia, teve mais sucessos recentes, a metade final se deteve na "era Chico Sciense" da banda, com as canções de Afrocibedelia, o segundo e último do qual Chico participou, pesando toneladas. 

"Etnia" e "Passeando no mundo livre" precederam a pressão poética de Maracatu Atômico. Quando cantava "Macõ", Lucio Maia recebeu da plateia uma camisa e transformou as inscrições de "Fora, Temer!", de novo, em bandeira. Para fechar a apresentar, "Quando a maré encher", a canção de Fabinho Trummer da Eddie que vira arrasa-quarteirão com a NZ, foi pura ovação. Desligados os instrumentos, a torrente de aplausos foi invadida por novas mnifestações do público contra o presidente interino. Depois do agradecimento coletivo, Lúcio Maia deu uns passos à frente e esticou uma camisa-bandeira vermelha com os dedos médios de cada mão em riste. No meio, a inscrição "Vaza, Temer". Para o grito de guerra da plateia, pedia em resposta: "Mais alto!". Se os protestos acontcem em todos os shows, a NZ foi a única atração e não fazer cara de blasé e aderir ao público.
 
Logo antes da Nação Zumbi, o pernambucano há decádas radicado em São Paulo Di Melo mostrou porque é uma das grandes usinas sonoras do Brasil. Em cerca de uma hora, fez até gari dançar com seu samba funk incendiadíssimo. "Não preciso de nada, vocês são meu combustível", dizia ele, dançando sem parar e tomando uma mistura de água com mel durante o show. Quando executou a malemolente Ilariô, até quem não o conhecia parecia fã desde o útero.

A noite foi aberta pelo ex-cordel do Fogo Encantado Clayton Barros, com um show vibrante em que não faltaram hists do grupo de fãs messiânicos de Arcoverde como Matadeiro. Com ênfase no instrumental, violões à frente, a poesia de Clayton não esconde a fonte. Tem a mesma viceralidade imagética das letras da antiga banda. Uma noite, aliás, de imagens que vão demorar a sair da retina.

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