O segundo semestre é de movimentação intensa na música pernambucana. Com discos recém-lançado ou preparando um novo, bandas e artistas como Cosmo Grão, Kalouv, Amandinho, Diablo Angel e Barro saem em turnê pelo país e ressaltam a importância de formar público fora de casa e o contato com outros artistas.
A Kalouv fez duas turnês este ano. Em março, montaram por conta própria a turnê Peixe Voador, fazendo seus primeiros shows no Sudeste. Em agosto, foram convidados para tocar no projeto Prata da Casa do Sesc Pompeia.
“A primeira turnê foi uma espécie de investimento. Por muito tempo recebemos convites para tocar em São Paulo e outras cidades do Sul e Sudeste, mas quase sempre não compensava financeiramente. Todas as vezes que tinham nos chamado, infelizmente os produtores não conseguiam bancar passagens e hospedagem”, conta Túlio Albuquerque, guitarrista da Kalouv.
Então, no começo do ano, a banda juntou os contatos e mapeou um giro pelos Estados de São Paulo e Paraná e algumas capitais do Nordeste, totalizando 15 shows em dez cidades. Toda essa odisseia levou à segunda tour do ano, quando surgiu o convite do Prata da Casa.
“Dessa vez, as passagens e hospedagem foram por conta deles. Isso nos deu liberdade de investir mais ainda em produtos e na divulgação de uma forma geral. Agora a resposta foi muito melhor. E além do Sesc, passamos por mais seis cidades. Algumas novas e outras voltando justamente pelos shows que fizemos no começo do ano. E em todos tinha bem mais público do que da primeira vez. Vendemos muito merchan na primeira viagem, mas agora foi quase o triplo. Acho que dessa vez, além de ter mais gente nos shows, um diferencial foi ter a maquininha de cartão. Importante comentar que investir em merchan foi uma das coisas fundamentais que fizemos. A venda dos produtos pode literalmente salvar uma viagem financeiramente”, explica Túlio.
Em setembro a Cosmo Grão também estreou no Sudeste, mas em uma turnê menor. Em parceria com o selo paulistano Sinewave (que lançou Cosmograma, último álbum da banda), o grupo apresentou-se no Rio de Janeiro, São Carlos (SP) e São Paulo. Formada em 2014, a Diablo Angel lançou este ano Fuzzled Mind, seu primeiro disco. Depois de tocar em eventos independentes na capital e interior de Pernambuco, eles fazem sua primeira turnê, passando por João Pessoa (14 de outubro), Natal (15) e concluindo no Coquetel Molotov em Recife (22).
“A ideia é passar por todas as capitais do Nordeste. Não vai ser corrido, tipo dez datas seguidas. Nós vamos e voltamos. Já estamos falando com o pessoal de Aracaju. Assim, a tour começa em outubro mas deve rolar até o início de 2017”, diz a vocalista e guitarrista Kira Aderne, da Diablo Angel.
Quem está em turnê agora é o cantor e compositor Barro. Guitarrista da Bande Dessinée, ele divulga o seu primeiro álbum solo, Miocárdio. Após passar por João Pessoa e Rio de Janeiro (no festival MoLa 2016, com Ventre, Aíla, Dani Nega e Craca), ele toca no projeto Prata da Casa (dia 18) e no festival Coquetel Molotov (dia 22). Depois, Barro viaja para Itália, onde irá promover o disco em rádios e fazendo pocket shows em diferentes cidades.
Além da formação de público, Barro ressalta também a importância da relação com as cidades por onde passa, fazendo divulgação com a imprensa e dialogando com outros artistas. No Prata da Casa, o produtor Gustavo Lenza (que mixou Miocárdio) será o técnico de som. A cantora Juçara Marçal (que canta na música Nouvelles Vagues) participa do show de São Paulo e Recife.
“Eu tento sempre fazer uma parceria. Não só porque ela traz o público dela, mas também para se aprofundar nas relações com a cidade e não ser só burocrático, um artista que chega, toca e sai. Ir criando vínculos. Em João Pessoa é assim, em São Paulo é assim e no Rio vai ser assim”, diz o músico.
A turnê Cruzada Contra o Rock de Arena, da Amandinho, tem contornos épicos da Amandinho. Saindo do Recife, a banda passará por Alagoas, Bahia e vai até São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Tudo isso de carro – o gol do baterista Johnny, com os quatro integrantes da banda. Depois de muita conversa com bandas amigas, eles começaram organizar os shows com amigos e parceiros.
“Fizemos contato com o pessoal que curtia a gente na internet, a galera das bandas que a gente lançou pela Transtorninho [selo criado pela banda] e dos selos que a gente conhece e fomos fechando tudo”, conta o baixista Danilo Galindo.
Todos os gastos foram calculados: R$ 2 mil para cada membro, incluindo alimentação, gasolina e a revisão do carro. Outubro foi o mês escolhido pois os quatro membros da banda estariam terminando estágio ou faculdade – o vocalista e guitarrista Felipe Soares inclusive vai fazer o Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo durante a viagem.
“O rock de arena é uma piada interna da gente. É meio aquele espírito ‘padrão Fifa’. A gente quer fazer uma coisa mais acessível mesmo. A importância (da turnê) é mostrar que é possível. Circular pelo País fazendo o que você gosta e entrar em contato com pessoas que também pensam como a gente e querem botar coisas pra frente. É meio que um ideal de como essa coisa de cena deve funcionar, as pessoas se ajudando e fazendo as coisas. Isso acontece muito fora, as bandas precisam circular pra sobreviver”, explica.
A turnê está sendo registrada em fotos e vídeos que servirão para o clipe de uma música nova. O plano, segundo o baixista, é gravar no fim do ano um novo álbum, o segundo do grupo – na sequência de Rugby Japonês (2015).