São muitos os lançamentos de frevos para o Carnaval de 2017

Rádio e TV ignoram composições de novatos e de veteranos
JOSÉ TELES
Publicado em 14/02/2017 às 7:03
Rádio e TV ignoram composições de novatos e de veteranos Foto: foto: Vanessa Accioly/Divulgação


"Dizem más línguas que eu caduquei/ que fali com a Rozenblit/ que eu desatualizei/ que ninguém me entende mais/ dizem até que nunca prestei/ porque sou filho do Carnaval/ e que horário nobre da programação/ não tem espaço pra artista local". Nestes poucos versos de Quem Sabe, Frevo, Vinicius Barros resume o dilema do frevo para se impor em sua própria terra.

 Além desses problemas, é comum se reclamar que o repertório do gênero não se renova. O que é verdade, no caso do repertório que se toca nas ruas ou nas emissoras de rádio, e apenas no período da folia (a não ser na rádios Universitária e Frei Caneca). A produtora Elayne Bione, da Dozão Produções, diz que ela e o sócio Alex Guterres decidiram promover um concurso de músicas carnavalescas porque convivem com novos compositores e a maior parte deles faz frevos:

 "A gente sempre acompanhou esses compositores. A gente conhece um monte de gente jovem que está compondo frevo. Daí achamos que dar visibilidade a eles, através de um concurso, poderia abrir os olhos do público para valorizar este pessoal", explica Elayne. No dia 9 de fevereiro, O Dia do Frevo, as composições que tiveram a maior nota da comissão julgadora (formada por jornalistas e músicos, entre estes o maestro Ademir Araújo) foram apresentadas pelos autores, na Casa do Cachorro Preto, em Olinda.

 O festival não teve ordem classificatória, a intenção era difundir o frevos novos. Os primeiros lugares ficaram com Vinicius Barros, Manuca Bandini, Julio Samico e João Menelau. Todos esses compositores seguem, mais ou menos, uma linha tradicional de frevos, embora mesclem o de bloco com o canção, como faz João Menelau em duas das três músicas com que concorreu ao festival da Dozão Produções, O Dobrado da Santa e As Noites. A terceira, Fura Bombo, é um frevo-­canção. Julio Samico, com O Carnaval Chegou, faz um frevo com toques de psicodelia, guitarras e metais, com maracatu rural no final da canção. São quatro bons exemplos de que o frevo não parou nos anos 1970. O Carnaval Chegou, hospedada no Soundcloud, é faixa de um álbum de Julio Samico e O Circo Voador.

 Não havia obrigatoriedade de ineditismo nas composições inscritas no concurso. Colibri, de Manuca Bandini e André Macambira, concorreu ao último festival de música carnavalesca promovido pela prefeitura do Recife, em 2013, e ficou em terceiro lugar. Enriquecido pelo ótimo arranjo do saxofonista Parrô Mello, Colibri é extremamente radiofônico, mas tocou muito pouco: "Eu mandei para algumas rádios, a música está no Spotify, com as outras que foram classificadas no concurso da prefeitura. Tocou esporadicamente. Toca às vezes em rádios universitárias", diz Bandini, que faz músicas há 15 anos e o frevo é um dos gêneros que formam boa parte de sua obra:

 "Faço frevos com facilidade, tenho uma porção deles, o suficiente para um álbum inteiro. Tenho um projeto para fazer isso. No momento estou gravando um disco de MPB, mas tem dois frevos,", conta Manuca Bandini. Mas nem só de frevos é feito o Carnaval pernambucano. O maracatu­-canção já foi mais prestigiado. Capiba foi um dos mestres no maracatu cantado e, para 2017, o maestro Forró engatou uma parceria com o veterano Bráulio de Castro, em Maracatu Tropical, mais um composição do tipo "esta é pra tocar no rádio".

 A música encabeça o repertório da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério e será tocada em todas suas apresentações. Maestro Forró diz que Maracatu Tropical não foi feita apenas para a folia deste ano: "Esta é uma composição que vai além do período de Carnaval, pois mistura características de vários gêneros: o tradicional maracatu de baque virado, o samba, frevo, ciranda e, claro, o manguebeat dos anos 90". A música, que é também uma homenagem a Naná Vasconcelos, com quem o Maestro Forró e a OPBH tocaram em vários carnavais. Maracatu Tropical teve um clipe compartilhado nas redes sociais.

 VETERANOS

 Com mais de quatro décadas de frevo, Severino Luiz Araújo, 77 anos, autor de Morena Azeite, campeã no festival Frevança de 1984, vem pegando a deixa da operação Lava Jato para compor frevos-­canção como crônica do cotidiano. Em 2016, ele lançou Continha na Suíça, em cima das muitas acusações ao então presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Este ano, repetiu a dose com o frevo Ficha Suja, interpretados, ambos, por Walmir Chagas, produzido por Fábio Valois, com capinha desenhada por Laílson de Holanda:

 "Eu banco do próprio bolso, faço uma tiragem reduzida, só para a distribuir com a imprensa e com os amigos", diz Araújo, que confirmou seu talento de autor de frevo ao tirar, domingo, o primeiro lugar no concurso de músicas carnavalescas promovido pela Prefeitura de João Pessoa, com o frevo-­canção O Frevo é Imortal.

 Outros autores e cantores, menos veteranos, nem por isso deixam de lançar discos de frevos, mesclando músicas novas e clássicos. É o que fez mais uma vez a banda Som Terra, com 42 carnavais, agora com um disco dedicado ao frevo de bloco ­ Som da Terra em Bloco ­ que abre com a autoral Pelas Ladeiras, de Rominho e Kayto, integrantes do grupo. André Rio veio de Meu Carnaval É Frevo, um empreendimento arrojado, bem produzido, com participações especiais de Alceu Valença e Chico Cezar, balanceando o repertório de composições novas e clássicos manjados.

 Gravado há três anos, com participação especial de André Rio, Maria Gadu, e Ivete Sangalo, entre outros convidados, Pernambuco Para o Mundo é o primeiro DVD de Nena Queiroga. Não é exatamente um produto carnavalesco, mas pelo menos metade é de frevo

 

 

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Carnaval 2017 frevos para 2017
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