Entre as muitas atrações que animarão o 54º Baile Municipal hoje à noite, no Classic Hall, estará uma que tem ligação especial com a festa. O cantor Claudionor Germano, “A Voz do Frevo”: “Participei de todas as edições Na primeira, cantei com a orquestra de Nelson Ferreira”, lembra o cantor, com 70 anos de profissão, que elogiou a predominância do frevo no Baile Municipal: “Não tem porque trazer artistas de outros gêneros, se temos aqui tantos artistas que merecem ser prestigiados”, critica.
Ao contrário de Claudionor Germano, Cannibal Santos, vocalista da banda de hardcore Devotos, fará sua estreia no baile como convidado do cantor Romero Ferro, que leva para o palco do Classic Hall o espetáculo Frevália: “É bom lembrar que eu não toco com a Devotos. Canto só com Romero Ferro, músicas de Chico Science, Alceu Valença, Zé Ramalho”, comenta Cannibal. Além do vocalista da Devotos, Romero Ferro convidou as cantoras Clarice Falcão, Priscila “Musa” Senna e Silvério Pessoa.
O projeto Frevália, já devidamente testado em várias apresentações, inicia o Baile Municipal e terá duração de 1h15. “Participei de uma edição no Paço do Frevo. São frevos reescritos de forma contemporânea, pop, com sotaque moderno, eu canto com Romero clássicos do Carnaval pernambucano, estou superfeliz”, diz Silvério Pessoa, ele próprio um dos renovadores da música carnavalesca, com o álbum Micróbio do Frevo.
O maestro Spok é o responsável pela direção musical do baile, embora as atrações não sejam escolha sua, e sim da produção da festa. Ele é quem amarra o roteiro: “Cada artista já vem com seu repertório pronto. Acho que a novidade este ano é o espetáculo Frevália. O baile vai ter basicamente frevo e, nos intervalos, samba, com a Patusco, Fulô de Mandacaru, Gigantes do Samba e D’Breck. Os artistas principais são Nena Queiroga e J.Michiles, os homenageados do Carnaval, que também montaram os sets deles. Nena traz Ylana, Cristina Amaral e maestro Forró. Michiles canta com o neto dele Vítor Santos, traz também seu filho César Michiles”.
Mas o baile gira naturalmente em torno dos dois homenageados, que são tema da decoração que este ano é assinada por cartunistas: “Cada um pegou um gênero carnavalesco como tema e fez com ele uma homenagem a Michiles e Nena”, explica Ronaldo, cartunista do Jornal do Commercio. Os shows também giram em torno da dupla, onipresente no palco.
Depois do show de Nena Queiroga e convidados, por volta da meia-noite, será a vez da Spokfrevo Orquestra: “A orquestra toca até as quatro da manhã, e aí vai ser só frevo, tanto os instrumentais, os clássicos, quanto os cantados, com participação dos principais nomes que fazem o Carnaval aqui: André Rio, Almir Rouche, Gerlane Lops. Quem fecha a noite é Elba Ramalho, acompanhada pela Spokfrevo”.
O Baile Municipal é um evento beneficente. O que é arrecadado com a venda de ingressos para pista, mesas e camarotes é revertido para instituições voltadas à assistência social. É assim desde a primeira edição, em 1961, na gestão de Miguel Arraes como prefeito do Recife. O baile inaugural, realizado no Clube Internacional, talvez tenha sido o mais badalado de todos. Desde janeiro as colunas sociais do jornais da capital tornaram o baile o assunto principal. Foi mais que um prévia carnavalesca, uma promoção turística bem montada. A começar pela lista de convidados, personalidades do mundo literário, musical e da ribalta.
bem montada. A começar pela lista de convidados, personalidades do mundo literário, musical e da ribalta. Uma época em que escritores decididamente estavam em alta. Entre os nomes que encabeçavam a lista de convidados estavam Rubem Braga, Fernando Sabino, José Condé, Millôr Fernandes (que não veio) e Vinicius de Moraes.
Muita gente foi ao aeroporto para ver as atrações do baile, muitos para arriscar um autógrafo de Paulo Autran e Tonia Carrero, celebridades do teatro nacional, e da cantora Marlene, que lançou no Internacional a marchinha Lua dos Namorados (de Klecius Caldas/Armando Cavalcanti). Os convidados chegaram na véspera do baile, que aconteceu na sexta, 10 de fevereiro, e depararam-se com um problema. As regras da festa exigiam traje a rigor, e nenhum deles trouxe. O prefeito Miguel Arraes dispensou os convidados do rigor do traje, revelando que ele próprio teve que comprar um smoking às pressas.