De Honório Gurgel, na periferia do Rio, aos palcos do mundo, Anitta fez uma carreira meteórica. Aos 25 anos e em menos de uma década, passou de cantora de funk a um dos principais nomes do pop brasileiro, agora focada no mercado internacional.
A chave do sucesso não está apenas na espontaneidade de suas postagens, que atraem 28 milhões de seguidores no Instagram, mas também em seu profissionalismo, que não deixa espaço para improvisos.
Cada passo da carreira é calculado e suas respostas em entrevistas parecem ser elaboradas para não interferir em sua estratégia de marketing.
"Uma artista tem que saber quem é, ser coesa na construção da carreira, ter um discurso com que as pessoas se identifiquem e sustente o que se propõe a fazer", resume a cantora em entrevista à AFP em sua mansão na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Nascida em 30 de março de 1993, Larissa Machado começou a cantar ainda criança na igreja frequentada pela família. Aos 17 anos, foi descoberta por um produtor que assistiu a um vídeo seu no YouTube e passou a se apresentar em bailes funk da Furacão 2000.
A fama chegou há cinco anos, com os hits "Meiga e Abusada" e "Show das Poderosas".
Sua carreira evoluiu com ações de marketing como o fenômeno pop "Bang" (2015), que tem 343 milhões de visualizações no YouTube, e o projeto de vídeos mensais "CheckMate" (2017).
Outro exemplo é o clipe de "Indecente", gravado em sua festa de aniversário este ano e transmitido ao vivo pelo YouTube.
O sucesso, explica Anitta, está em "fazer diferente".
"Eu pesquiso mercado, mais pra fazer diferente do que para seguir tendências. Busco aquilo que ainda não foi explorado", afirma.
Hoje Anitta acumula sucessos, é sua própria empresária e administra também a carreira de outros dois cantores.
Foi considerada a 10ª artista mais relevante do planeta nas redes sociais pela Billboard e está entre as 100 pessoas mais influentes e criativas do mundo, segundo a Vogue.
No entanto, ela resiste ao rótulo de diva.
"Diva tem muito de endeusamento e eu sou mais pé no chão, gente da gente. Até tenho meus momentos de diva, mas não quero ser vista como uma coisa intocável", afirma, cercada por uma entourage de funcionários que se revezam entre cabelo, maquiagem e assessorá-la para garantir que tudo esteja perfeito.
Em 2017, após cantar no programa de TV Tonight Show, da americana NBC, ganhou dos fãs brasileiros o apelido carinhoso "Anira". E fez uma série de parcerias internacionais, entre elas com DJ Alesso, Major Lazer, Poo Bear e Iggy Azalea.
Seu sonho, conta, é cantar com o rapper Drake: "Tenho amigos em comum, mas não sou inconveniente, não fico 'pedinte'. Tenho bom senso. Vamos esperar o destino".
No início deste mês, ficou surpresa com o convite para falar sobre sua carreira e experiência no mundo dos negócios na Brazil Conference, nos Estados Unidos, organizada pelas prestigiosas universidades de Harvard e MIT.
"Achava que ia chegar aonde queria no Brasil com uns 30 anos. Aí fiz 22 e já estava super bem. Gosto de desafios, então fui pesquisar o mercado internacional", declarou no evento.
Anitta identificou na América Latina um nicho de mercado e gravou com os colombianos Maluma e J Balvin.
"Comecei a entender que, embora o inglês seja a língua universal, o espanhol tem números equivalentes aos de consumo da língua inglesa", explicou.
Passou dois anos visitando clubes e locais populares em Espanha, Estados Unidos e México para entender o mercado não só pela visão da indústria, mas também das pessoas.
Anitta lembra que o Brasil já chegou a consumir música pop latina através de cantores como Ricky Martin e Alejandro Sanz, e antecipou um retorno deste estilo.
Ao perceber o espanhol como a próxima tendência, começou a pensar em como resgatar o mercado latino. "Só me antecipei e busquei 'puxar' essa corrente ", explica.
"La bombe latine", como é chamada na França, quer mais. Este ano ela planeja passar uma semana por mês no exterior para se dedicar à carreira internacional. Em junho, se apresentará no Rock in Rio Lisboa e tem shows agendados para o mesmo mês em Paris e Londres.
No Brasil, tem projetos como o DVD infantil "Clube da Anittinha", com temas educativos para "doutrinar, informar as crianças de maneira divertida", diz.
Recém-casada com o empresário Thiago Magalhães, Anitta espera ter um ritmo de trabalho menos intenso no futuro.
"Daqui a 10 anos, me vejo desacelerada, tendo realizado todos os meus sonhos, e focando nas coisas que amo". Sobre a maternidade, é sucinta: "se acontecer, dou uma pausa, sim".
"Todos os sonhos que eu tinha, já conquistei. Tinha muita vontade de mostrar às pessoas que era possível fazer o que todos dizem ser impossível. Esse era meu maior sonho. Hoje em dia, estou super realizada".
AFP - Suas músicas falam muito da mulher, do empoderamento feminino. Você se considera feminista? Você levanta essa bandeira?
ANITTA - Eu levanto a bandeira dos direitos iguais, só acho que hoje em dia tem mudado um pouco essa questão: as pessoas estão achando que é colocar a mulher acima do homem e não é. Pra mim são os direitos iguais mesmo. Eu só não gosto de ser confundida com essa parte que, para levantar a mulher, coloca o homem para baixo. Não sou desse tipo, sou do tipo que todo mundo tem que estar lá em cima e está tudo certo.
AFP - Com a exposição constante nas redes sociais, você se sente cobrada de ter que ter sempre uma opinião sobre tudo – seja feminismo, política, racismo?
ANITTA - Com certeza, sempre é cobrada uma opinião e, quando você dá a opinião, aqueles que não concordam vão te julgar. Quando possível, e quando acho que não vai atrapalhar, dou minha opinião. Só não me aprofundo porque acho que cada um vem com a sua missão, e a minha é passar entretenimento, alegria, mensagens boas e dar um bom exemplo.
AFP - O que você acha que alavancou o seu sucesso?
ANITTA - Eu fiz diferente, foi novidade. O fato de buscar fazer completamente diferente, ao mesmo tempo em que é arriscado, se der certo, vai dar muito certo. Sempre jogo num super risco, de novidade, de conteúdo. Desde uma batida, ao look, ao discurso, tudo eu tento fazer o mais diferente possível.
AFP - Quais são suas divas?
ANITTA - A Beyoncé é uma grande diva, a Rihanna. A Mariah Carey, para mim, é a primeira de todas, porque foi a que eu cresci ouvindo. E aqui do Brasil, a Marisa Monte. (Para ser uma diva) Acho que uma artista tem que saber quem ela é, ser coesa na construção da carreira, ter um discurso com que as pessoas se identifiquem.
AFP - Mas você se considera uma diva pop?
ANITTA - Não sei, isso de diva tem muito de endeusamento. Eu sou mais pé no chão, gente da gente. Até tenho meus momentos de diva, mas não quero ser vista como intocável. Pelo contrário, quero ser vista como alguém que é possível chegar perto, que é possível ser e parecer.
AFP - Como chegou às parcerias internacionais?
ANITTA - Indo para a balada conhecer gente, fazendo reuniões. Procurando contatos, redes sociais, e fui metendo as caras mesmo. Meu sonho é fazer uma parceria com o Drake. Ainda não o conheço, tenho alguns amigos em comum, mas sou cara de pau. Não sou inconveniente, não fico 'pedinte'. Tenho bom senso. Então vamos esperar o destino.
AFP - Quando você percebeu que a América Latina podia ser um nicho?
ANITTA - Comecei a entender que, embora o inglês seja a língua universal, o espanhol tem números muito grandes, equivalentes aos de consumo da língua inglesa. Quando percebi que o espanhol seria a próxima tendência do momento, comecei a arquitetar como conseguiria fazer essa moda voltar ao Brasil. Acho que fiz parte (desse retorno), mas não tem só a ver comigo. Analisei e visionei algo que aconteceria, só me antecipei, tentei puxar essa corrente logo.
AFP - Como surgiu a ideia do CheckMate, de um clipe por mês? Qual foi o objetivo com esse projeto?
ANITTA - O meu objetivo era ter conteúdos materiais em outras línguas disponíveis na rede. Pensei em uma maneira que fosse prática, rápida e que não fosse uma coisa que eu ia fazer e ninguém ia ver. O Brasil consome muito single e, para eu conseguir um pouco de visibilidade lá fora, teria que usar os meus números daqui. Então pensei nos clipes mensais, criando expectativa.
A primeira (música, 'Will I See You') era uma proposta completamente nova, mas mostrando minha potência vocal. A segunda ('Is That For Me') era mais comercial. A terceira ('Downtown'), um pouco mais ousada e em espanhol. E a última ('Vai Malandra'), o Brasil que eu estava acostumada a fazer.
AFP - Onde e como você se vê daqui a 10 anos?
ANITTA - Me vejo desacelerada, não mais com esse ritmo de trabalho, tendo concluído todos meus sonhos e dando foco a coisas mais do coração, fazendo só as coisas que me deem muito prazer e que eu ame muito, projetos que eu acredito de coração.