“Queria falar mais sobre como penso a vida e colocar ritmos que gosto, além do rap e do R&B. Vivi um momento intenso, tão feliz quanto tenso. Um instante de recomeçar a carreira, como um primeiro passo novamente”. Pouco mais de um ano se passou entre o lançamento do EP Espelho, trabalho de estreia da paulistana Drik Barbosa, até a chegada do álbum completo, com onze faixas, apresentado em outubro.
O disco, diz ela, é uma primeira síntese de impressões, memórias e gostos, por isso foi batizado com seu nome. É o show de Drik Barbosa que ela faz hoje, no palco Natura do Festival No Ar Coquetel Molotov.
A primeira observação a respeito do álbum, dirigido por Evandro Fióti, produzido por Grou e lançado pela Laboratório Fantasma, é a quebra de expectativa em relação à posição de rapper. Drik explora muito mais além do flow pesado e rápido e se mostra cantora para muitos outros caminhos.
“A gente ouvia muita música na vila onde eu morava, todo mundo (a família) era vizinho de barraco. Minhas primeiras lembranças vêm da infância, minha mãe limpando a casa e ouvindo música, meu pai chegando do trabalho e pegando o violão. Tinha rap no meio, mas não tão presente quanto outros gêneros. Meu pai é baiano, minha mãe é pernambucana, em casa tocava muito mais forró. Meus tios gostavam muito de rap, então eu ia ouvindo junto. Mas foi na adolescência que tive o primeiro contato de verdade. Na época a gente falava que era do ‘black’”, conta ela por telefone ao JC.
O casamento com a cultura de rua começou aos 14 anos, na Batalha da Santa Cruz, onde participava de rodas de improviso, assistia às batalhas de rima e observava a diferença de tratamento entre homens e mulheres.
“Batalhei poucas vezes porque estourava fácil. Os caras não tinham argumento para batalhar com mulher, soltavam coisas do tipo: ‘eu nunca pegaria você, você é feia’. Isso me irritava. Por que a batalha entre um homem e uma mulher não pode falar sobre coisas relevantes?”
Com participações de nomes como Anna Tréa, Luedji Luna, Karol Conká e Gloria Groove, Drik Barbosa saúda a trajetória de Drik, expõe o presente de vitórias – explorado no documentário Minha História, disponível em duas partes no YouTube – e projeta seus objetivos. O resumo da ideia ela faz já na faixa de abertura, Herança.
“Meu superpoder é arte na minha mão / Nunca é só mais uma, é sempre coração / Música é terapia, o rap é minha casa / Baby, tudo que eu tocar faço virar canção / Mil vezes mais forte / mil vezes mais alvo / mil vezes mais ágil”.