Xico Bizerra lamenta a falta de renovação do pé-de-serra

Ele lança mais um disco autoral, Cantigas de Sanfoneiro
JOSÉ TELES
Publicado em 20/11/2019 às 11:07
Ele lança mais um disco autoral, Cantigas de Sanfoneiro Foto: Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem


Xico Bizerra, nascido no Crato (CE), morando desde final dos anos 60 no Recife, foi durante 28 anos funcionário do Banco Central do Brasil. Em 1999, saiu por uma porta, a do BC, e entrou por outra, a da música. Claro, não foi a aposentadoria que trouxe a inspiração. Ele já rabiscava umas letras, já assoviava umas músicas:
“Mas achava que não dava pra conciliar, fazer bem as duas coisas. “Quando saí do banco, fiz umas coisinhas, gravei uma fita demo e mandei pra 12 artistas. Só Irah Caldeira me respondeu. Sugeriu que fizesse um disco. Convidei alguns intérpretes, o disco foi feito, e deu certo. Vendeu bem, foi bem de crítica e me incentivou a fazer outro”, conta Xico Bizerra sobre o início do projeto, Forroboxote que completa 20 anos com mais um disco: Cantigas de Sanfoneiro. O lançamento acontece hoje, na Passa Disco, no Espinheiro, às 19h, com canjas do guitarrista João Neto e Luizinho da Serra.

Ilustra a capa uma foto chiaroscuro de Dominguinhos de costas, numa apresentação intimista em Caruaru, na casa de Lúcio Omena. A foto, do mineiro José Evangelista, dá um toque de classe a mais num álbum de embalagem luxuosa. Exigência que Xico Bizerra se faz é a qualidade da apresentação de seus discos: “Lançar em envelopes, mal gravados, é uma das coisa que ajudam a acabar com o forró”, admoesta, mas aponta para problemas maiores que afetam o bom desempenho do gênero.

“O forró está nessa crise toda por causa de vários fatores. A música lixo, no espaço que deveria ser do forró pé de serra, tem a publicidade do poder público com todo esse esquema das bandas. Não tenho nada contra que o povo vá assistir, mas com o meu imposto eu não aceito. O governo tem uma grande culpa de o forró estar acabando. E há também a outra dependência exacerbada do artista em relação ao poder público. E se de repente tirarem o patrocínio, como fizeram com o comício. Se acabarem com o patrocínio de show, entretenimento, todo mundo se lasca porque estão todos mal-acostumados. Estão acomodados, sem saber para onde ir. Entretenimento não é função do Estado. A obrigação do Estado é com fomento, estrada, saúde, educação, segurança, etc. Entretenimento, cada qual que faça o seu, e arque com a despesa”, pondera.

Xico Bizerra revela que dispensa leis de incentivo e afins para produzir seus discos: “Tudo que ganho com a venda de CDs, direitos autorais, prêmios em festivais, vai prum ‘cofrinho’”, que só é aberto quando vai produzir um novo disco. “O que ganho na música, invisto em música”.

RENOVAÇÃO

Coincidentemente, Xico Bizerra surgiu quando o forró autêntico deixa de ser um ritmo sazonal para tocar no rádio, novamente no horário nobre, a partir do sucesso de Caboclo Sonhador, de Maciel Melo, com Flávio José. Duas décadas depois, os ídolos do forró continuam os mesmos, aponta Xico Bizerra.

“Se você procurar hoje, a faixa média deste pessoal é de 60 anos. Santanna, Maciel, Petrúcio, Jorge, Flavio José, é tudo por aí. O que acontecerá quando este pessoal falar em parar, e não vai demorar, todo mundo tem um limite. Quando pararem quem vai segurar o forró?”, solta questionamento no ar. Para Xico está faltando motivação para a renovação: “O dinheiro é a mola mestra, o pessoal corre pro forró estilizado, pro sertanejo, pro brega, a coisa que no momento tá dando grana”.

REFERÊNCIAS

Cantigas de Sanfoneiro é um disco com uma maioria de músicas inéditas, algumas raras, como é o caso Pise de Mansinho, parceria póstuma com Luiz Gonzaga: “Botei letra num instrumental dele, para o disco Luas de Gonzaga, produzido por Gereba (do grupo baiano, dos anos 70, Bendegó Gereba). “Faço uma referência aos sanfoneiros que já se foram – Dominguinhos, Gonzaga, Pedro Sertanejo – e dou as boas vindas para a turma mais nova – Beto Hortiz, Jonathan Malaquias, e outros talentos. Sem esquecer dos tradicionais, Gennaro, É Chico Chagas”. Nas 18 faixas, as gerações se misturam. É um “quem é quem” do forró, com artistas que eventualmente incursionam pela seara, Geraldo Maia, Dalva Torres, Luiza Fittipaldi e Sarah Lopes.

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