Capiba também foi bom em samba

Claudionor Germano cantou os sambas do mestre do frevo
JOSÉ TELES
Publicado em 02/12/2019 às 14:24
Claudionor Germano cantou os sambas do mestre do frevo Foto: Ilustração : Thiago Lucas


No dia 21 de novembro, de 1960, a fina flor da cultura e intelectualidade recifense compareceu a filial na Livraria Editora Nacional, na Rua da Imperatriz. Nomes feito Francisco Brennand, Hermilo Borba Filho, Luiz Delgado, Cesar Leal, Nelson Ferreira, o maestro Giuseppe Mastroianni, Ariano Suassuna (que escreveu o longo texto da contracapa) e as principais autoridades do estado. O lançamento foi um dos acontecimentos sociais do ano na capital. O motivo? Um disco de sambas, compostos por Lourenço da Fonseca Barbosa, o celebrado Capiba, e interpretado por Claudionor Germano. O título não poderia ser mais simples: Sambas de Capiba, com selo da Rozenblit. Até Capiba, que não era de falar em público, pelo problema de dicção, fez um pequeno discurso, transferindo a homenagem ao parceiro, o poeta Carlos Pena Filho, falecido pouco tempo antes.

Nem este LP histórico nem Claudionor Germano, certamente, serão lembrados hoje no Pátio de São Pedro, na festa promovida pela Prefeitura do Recife, comemorando o Dia Nacional e Municipal do Samba. A edição do disco esgotou-se logo, ele está desde então fora de catálogo – é um dos mais raros da gravadora dos irmãos Rozenblit. O próprio Claudionor tem um único exemplar, que não está em bom estado de conservação. Aliás poucos sabem deste seu lado de sambista:

“Eu tinha gravado dois LPs de frevo, um com músicas de Nelson Ferreira, outro de Capiba. E me convidaram para gravar mais este. Sabiam que eu tinha memória muito boa, aprendia música com facilidade”, conta Claudionor, que naquele ano gravaria mais dois LPs, com composições de Nelson Ferreira e Capiba. Boa memória confirmada pelo maestro Clóvis Pereira, que assina alguns arranjos no álbum: “Claudionor já chegou no estúdio sabendo as músicas, as letras, tudo de cor. Ele tem esta qualidade. Depois, nas gravadoras, músicos eram pagos por sessão. Zé Rozenblit queria que fosse tudo rápido porque alugava o estúdio para outras gravadoras, para pessoas que pagavam o que se chamava de discos particulares”, conta o maestro.

A gravação de Sambas de Capiba coincidiu com a chegada dos modernos equipamentos estéreo da Rozenblit. Foi o primeiro disco com esta técnica lançado pela gravadora. Sambas de Capiba tem A Mesma Rosa Amarela, um dos maiores sucessos nacionais do compositor, mais conhecido pelos frevos canção. É uma das quatro parcerias, no disco, com o poeta Carlos Pena Filho. Se o LP tivesse mais divulgação fora de Pernambuco teria feito de Claudionor, em 1960, um ídolo nacional. No Recife, ao contrário de Rio ou São Paulo, onde existiam gravadoras, valorizava-se mais o compositor do que o intérprete. A capa do álbum destaca Capiba, em foto p&b ao piano, vê-se que o nome do cantor está discretamente, à direita, Claudionor Germano Canta, em seguida os títulos dos sambas.

BOSSA NOVA

A Mesma Rosa Amarela estourou dois anos depois na voz de Maysa, em andamento de bossa nova. Aliás, um pouco na cola do arranjo que Clóvis Pereira escreveu, e aqui no Recife rotulado como de bossa nova: “Não digo que seja de bossa nova. O que aconteceu naquela época foi que fiz amizade com o parceiro de Capiba em A mesma Rosa Amarela, Carlos Pena Filho, e ele e Capiba concordaram com o arranjo que fiz pra música. Acompanhei Claudionor numa batida de bossa nova. Fiz isto também depois em Olinda, cidade eterna”, conta o maestro. É provável que a rápida vendagem da edição do LP deva-se à morte precoce Pena Filho, em um acidente de carro, cinco meses antes.

Ele estava com o futuro governador de Pernambuco, José Francisco de Moura Cavalcanti, próximo ao Forte das Cinco Pontas, quando o automóvel foi atingido por um ônibus. O poeta faleceu, aos 31 anos, em 1º de julho de 1960. Sambas de Capiba é um disco de muitos parceiros. Thalma de Freitas, Paulo Fernando Craveiro, Fernando Lobo, e João dos Santos Coelho (feita quando Capiba ainda morava em João Pessoa, Não Quero Mais, gravada por Francisco Alves em 1930). Quem sabe, na próxima celebração ao samba, Sambas de Capiba ganhe, finalmente, um relançamento e seja reverenciado como um marco do gênero em Pernambuco?

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