A história dos Novos Baianos em filme

Diretor passou 11 anos para concluir o trabalho
JOSÉ TELES
Publicado em 29/07/2011 às 6:00


"A gravidez cósmica da juventude do momento”. Assim é como o velho baiano Tom Zé define a música feita pelos Novos Baianos, em uma de suas várias intervenções no premiado documentário Filhos de João – O admirável mundo novo baiano, de Henrique Dantas, que agora chega ao DVD. Em 2009, quando foi lançado no Festival de Brasília, ganhou o prêmio especial do júri e o voto do júri popular. O documentário é também a primeira produção inteiramente da Bahia, direção, produção, pesquisa e montagem, desde Barravento, de Glauber Rocha, há 50 anos.

O título "Filhos de João" surge porque João Gilberto – que infelizmente não aparece no filme – é o pai espiritual do grupo. “João chegou às três da manhã no apartamento, onde rolava as maiores loucuras, e disse para a gente tocar pandeiro, tambores. Perguntou se a gente conhecia Assis Valente e sugeriu que a gente cantasse Brasil pandeiro. Foi ali que o som do grupo começou a mudar”, conta o baixista Dadi, que fez parte do grupo A Cor do Som, que acompanhava os Novos Baianos. O apartamento, alugado quando chegaram ao Rio, faz parte do folclore da Ipanema udigrudi e riponga de final dos anos 60, começo dos 70. Foi o embrião do lendário sítio em Jacarepaguá, onde os Novos Baianos viveram em uma comunidade hippie.

O diretor do documentário, Henrique Dantas, nasceu em 1972, o ano em que os Novos Baianos puseram em prática os ensinamentos de João Gilberto, e fizeram Acabou chorare. Ele diz que cresceu ouvindo o grupo por causa do pai: “Era a música que tocava nos domingos, João Gilberto, os Novos Baianos, então fiquei fã. Um dia vi uma entrevista em que Galvão (nota da redação: um dos componentes da banda, parceiro de Moraes Moreira) dizia que a banda iria comemorar os 30 anos, foi quando pensei em fazer o filme”. Dantas passou 11 anos para concluir o documentário: “Resolvi fazer também para que a minha geração conhecesse esta história, e por sermos tão carentes de utopias. Os Novos Baianos trabalharam muito esta utopia. Quando parti para as entrevistas, vi que a figura de João Gilberto não era apenas a do pai da bossa nova, foi uma influência fundamental no grupo. O primeiro disco deles era muito rock and roll, muito Jimi Hendrix, e João Gilberto ensinou a eles o caminho do Brasil”, comenta Henrique Dantas.


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