Quando deixou o vilarejo de Jurucutu, sertão do Seridó potiguar, para estudar no Recife, Expedito Baracho, então com 13 anos, não tinha ideia de que estudaria pouco, mais aprenderia muito. Quando veio para a capital pernambucana, em 1948, ele já tocava um pouco de violão. "Morava em Guadalupe, Olinda. Cantava e tocava com os amigos e me sugeriram que participasse de um programa de calouros. Cheguei lá e pedi que Zé do Carmo, o violonista, me desse um dó. Ele perguntou se eu sabia tocar. Respondi que sim e ele me entregou o violão. Cantei me acompanhando, tirei o primeiro lugar, ganhei 20 milréis, dinheiro pra danar", relembra o cantor. No próximo dia 1º de agosto, ele mostra que ainda está em forma, no show Expedito Baracho 60 anos de MPB, no Teatro de Santa Isabel.
No palco, ele receberá parte dos seus muitos amigos:Claudionor Germano, Onilda Figueiredo, WalmirChagas, Fátima de Castro, Ravel, Roberto Nogueira e Bráulio de Castro, acompanhados pela Orquestra do Maestro Ademir Araújo e a banda de Beto do Bandolim. Infelizmente alguns amigos não vão estar na festa: "ConvideiJair Rodrigues, mas no dia ele estará no exterior", diz Expedito Baracho. Com o sambista paulista, ele cantou na lendária orquestra do maestro Djalma Ferreira, em São Paulo: "Éramos eu, Fausto Canova e Jair Rodrigues os crooners do grupo de Djalma Ferreira, que tocava com o pessoal que depois formou o Zimbo Trio". Com o pianista Djalma Ferreira, Expedito Baracho cantou quando morou em São Paulo. Mas a grande parte de sua carreira desenvolveu-se no Recife. Ele saiu dos calouros para cantar na seleta Jazz Banda Acadêmica, grupo que marcou época no Nordeste, e pelo qual passaram alguns dos maiores músicos e vozes e Pernambuco. "Comecei a ganhar o programa de calouros todas as semanas. Um bom salário. Aí o patrocinador me vetou, porque eu ganhava todos, então tive que procurar um trabalho. Fiz um teste na Jazz Banda Acadêmica e passei. Lembro que, em 1951, fui com a jazz fazer o Carnaval em Maceió. Quando terminou, Guedes Peixoto, que naquele tempo tocava trombone, passou um envelope com o cachê aos músicos. Quando abri o meu, tive um susto: um conto de réis, era muito dinheiro".
NO RÁDIO
Como todos os talentos da época em Pernambuco, não demorou para Expedito Baracho ser contratado pela Rádio Jornal do Commercio. Fundada em 1948, a emissora logo se tornou a principal da região e uma da mais importantes do Brasil: "Tinha programa de auditório de manhã, de tarde, de noite. Fui do cast da rádio durante três anos, com exclusividade total. Se alguém falasse pelo menos o nome da concorrente,Rádio Clube, no microfone da Jornal, já estava despedido. Eram quatro orquestras na emissora", lembra Expedito.
Ele ainda cumpria jornadas extras, como a que fez como baixista numa gravação no estúdio da Radio Jornal do Commerico, na Rua do Imperador: "Toquei baixo no grupo que acompanhou Jackson do Pandeiro na primeira gravação dele, Forró em Limoeiro, nem dá para ouvir direito", revela Baracho, mostrando que a memória continua afiada. Cita todos os músicos que participaram daquela sessão histórica há 60 anos: "Os irmãos Nelson e Romualdo Miranda, Luperce Miranda já havia voltado para o Rio. Mais Miro e Pequeno, pandeirista dos Vocalistas Tupy"
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