Kurt Cobain foi incapaz de conviver com o próprio sucesso

A música do gênio atormentado ainda influente 20 anos depois
JOSÉ TELES
Publicado em 05/04/2014 às 6:00


Há vinte anos anos, o Abril pro Rock começa sua segunda edição em alto astral. Seria o primeiro a ter cobertura nacional. O mangue beat engrenava, no Recife estava a cena musical mais interessante do país. O Circo Maluco Beleza, na Rui Barbosa, abrigava um grande público, com uma programação de artistas locais (o único de fora foi o rapper Gabriel O Pensador). O álbum Da lama ao caos, da Chico Science & Nação Zumbi, acabava de ser lançado. Porém Paulo Andre Moraes, produtor do APR, viu-se obrigado a, dar uma notícia lamentável: a morte de Kurt Cobain, encontrado na garagem de sua casa, em Seattle. Suicídio a causa mais provável. Constatou-se depois que ele havia ingerido uma quantidade de heroína, que dispensava o uso da arma (que pediu para o amigo Dylan Carlson comprar uma semana antes).
No bilhete de despedida, versos de Hey hey, my my (out of the blue), “Melhor incendiar de vez do que sumir aos poucos” (tradução não literal de “It's better to burn out/than to fade away). Kurt Cobain, 27 anos, encerrava ali uma carreira não apenas brilhante como revolucionária. Ele fez pelo rock, mundialmente, o que Chico Science os mangueboys fizeram no Brasil, revitalizando e renovando uma cena musical quase estagnada, presa a estética de décadas anteriores. “Alguém da Sony, ou do público, havia chegado no evento e tinha visto na TV ou escutado no rádio. Nem pensar em internet, isso foi em 1994. Aí tinha uns vinis e CDs de Da Lama ao caos, eu joguei pro público e dei a triste notícia”, relembra Paulo André.
Desde Nevermind, o segundo disco do Nirvana, Kurt Cobain tornou-se personagem ubíquo em jornal, revista, TV. O trio, Cobain, Grohl, Novoselic deflagrou uma revolução. Assim como a música pop brasileira navegava nas águas quase paradas do Brock, o pop americano, inglês tinha como estrelas Whitney Houston, Mariah Carey, Mr.Big, Celine Dion. Nada mais emblemático do que Nevermind ser o álbum que desbancou Dangerous, de Michael Jackson das paradas. O sucesso porém veio de repente, e em dimensões que a gravadora Geffen não esperava quando comprou o passe da Nirvana à nanica Sub-Pop, que lançou o álbum de estréia da banda, Bleach, em 1989, que contratou a banda por por apenas US$ 600. Em 1991, o grupo passou para a Geffen, levando US$ 290 mil (a Sub-Pop ganhou US4 75 mil, mas um percentual nos dois primeiros discos que a banda lançasse na nova gravadora).
Assim como o Recife, tornou-se a meca das gravadoras, jornalistas culturais, depois de uma matéria na revista Bizz (depois Showbizz), que anunciou o movimento para todo o país, o sucesso do Nirvana fez de Seattle ponto de convergência da mesma fauna. Soundgarden, Tad, Screaming Trees, Pearl Jam. Seattle, por ser a maior cidade da região, porém a maioria era de outras cidade. O Nirvana, por exemplo, tocou pela primeira vez em Seattle, em abril de 1988, quando começava a gravar o que seria o álbum Bleach, pela Sub-Pop. A Nirvana surgiu em Aberdeen, próxima a Seattle, tendo como núcleo Kurt Cobain e Krist (Chris) Novoselic. O grupo mudou constantemente de baterista, até a definição da formação em 1990, com Dave Grohl.
os dois estabilizaram o grupo porque entendiam, o angustiado Cobain, de humor flutuante. Não puderam fazer nada quando descobriram que ele não tinha estrutura para suportar o imenso sucesso que caiu sobre o Nirvana depois de Nevermind. Um mês depois de lançado alcançou 500 mil cópias vendidas. Três meses mais tarde, chegou à casa dos dois milhões. Smells like teen spirit passou a hino de uma geração. E Kurt Cobain mais um ídolo pop que morreria cedo, e deixaria um cadáver, mais ou menos bonito. A turnê do terceiro álbum de estúdio, In útero foi conturbada. A morte que procurou em março em Roma, veio ao encontro dele no dia 5 de abril de 1994. Estava com 27 anos.

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