A taça dos memes é nossa

Acaba hoje o Mundial do Brasil e fica a sensação de que nunca tiramos tanta onda com a disputa entre as nações
Allan Nascimento
Publicado em 13/07/2014 às 3:53
Acaba hoje o Mundial do Brasil e fica a sensação de que nunca tiramos tanta onda com a disputa entre as nações Foto: NE10


“Se o Brasil ganhar, subo no palco de Galinha Pintadinha”, anunciou Cláudia Leitte dia desses. Tudo porque o body azul que a cantora utilizou na abertura da Copa lembrava a penugem de um dos personagens da animação infantil e, claro, comparações não faltaram na internet. Perdemos o jogo contra a Alemanha, perdemos de ver essa cena. Triste. A derrota mais que enterrou o desejo de muitos de faturar uma SmartTV por um real. Mas, passada a rebordosa do 7 x 1, a vida continua. E o prejuízo citado nem foi dos maiores. A taça do mundo não vai ser nossa, só que bem que deveria existir uma Jules “Rimeme”. Nesse quesito, fomos bons no samba, no couro e na zoeira. A Copa dos Memes foi aqui – e com muito mais cidades-sede que o torneio da Fifa.

Para quem não sabe o que é meme, termo que em breve deverá fazer parte dos nossos dicionários – já está no Oxford dictionary – lá vai a explicação: é uma ideia, geralmente com pitada de humor, difundida através da web. Pode ser um hiperlink, um vídeo, uma imagem, um website, uma hashtag ou até uma palavra, frase ou bordão. Pode se espalhar através das redes sociais, dos blogs ou de outros sites, tornando-se o que chamamos de viral.

Alguns meses antes da abertura do Mundial já podíamos prever que a tiração de onda seria a maior da história da disputa, já que na Copa passada sequer tínhamos o hábito de destacar trechos hilários das partidas para gerar compartilhamentos – apesar de parecer pouco tempo, em 2010, o Orkut, hoje com os dias contados, era o líder no número de usuários no País, ou seja, conceitos como compartilhar, timeline, inbox etc. eram desconhecidos para meio mundo de gente.

E assim começamos pela presidente Dilma, que foi, sem dúvida, um dos maiores alvos dos gaiatos online. Apareceu montada de Fuleco (um nome, convenhamos, que já vale a piada), em HQs anunciando que a Copa jamais teria um fim e em imagens que simulavam conversas dela com os jogadores via WhatsApp – sempre com diálogos onde ela era chamada de “Dilmãe” pelos integrantes da seleção canarinha.

O jogo Brasil x México, ainda na primeira fase dos jogos, rendeu um duelo paralelo envolvendo as duas nações. Na web, cada equipe foi representada por um vilã-símbolo dos dois países, que são apaixonados por telenovelas. Do lado de cá do ringue, Carminha, de Avenida Brasil (2012). Do outro, Paola Bracho, a gêmea má de A usurpadora (1998), sucesso da Televisa reapresentado no Brasil incontáveis vezes. Terminamos empatados no gramado e não há como saber quem é mais malvada. 0 x 0. 

Houve outro episódio, por sinal, envolvendo as novelas. “Quién mató Max fue Carminha”, atestava o cartaz de uma torcedora no jogo Bélgica x Argentina, em Brasília, pelas quartas de final. Tudo para estragar o suspense dos hermanos, que assistiram semana passada ao último capítulo da trama global, um fenômeno de audiência entre os portenhos.

Sobrou até para Marina Abramovic. A instalação The artist is present, que artista-performer fez em 2010, no MoMa, em Nova Iorque, deu origem ao Tumblr Marina Abramovic Made Brazil Cry. No trabalho original, muita gente se estapeou para ficar frente a frente com ela – e muitos choravam quando isso ocorria. Agora, na sátira, é a vez de um público formado apenas por torcedores e jogadores brasileiros lacrimejarem a surra que levaram da Alemanha.

Outro grande momento. “De dona Lúcia, uma torcedora anônima: professor Felipão, acabo de ver a coletiva dada pelo senhor. Mais uma vez, vi, diante da câmera, um homem íntegro e corajoso falando à nação. Fiquei muito triste ao constatar que o ser humano muitas vezes é de uma crueldade sem limite. Tive esse sentimento ao ouvir um jornalista lhe perguntar sobre uma possível dívida do senhor com a nação brasileira e o senhor, mesmo sofrendo mais que qualquer um ali, com toda a humildade que lhe é peculiar, deu-lhe uma resposta verdadeira e coerente. Parabéns!”. O coordenador técnico da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira teve a ideia de ler, em uma coletiva de imprensa, a carta de uma torcedora dando força ao treinador depois do resultado que desclassificou a equipe canarinha. Pronto. Pouco tempo depois, estava no ar o Twitter @DonaLuciaCBF, uma sátira à citada personagem, que já é seguida por quase seis mil usuários e que tuíta pérolas como: “Daqui uns dias volta o Campeonato Brasileira (sic) e já to preparando aquelas cartinhas quilométricas de tanto jogo ruim.”

Um site simula qual seria o placar do duelo Brasil x Alemanha se o jogo ainda não estive-se acabado. Quando fechamos esta edição, na manhã de sexta-feira, uma visita ao brasilealemanhaeterno.com demonstrava: 334 x 44 para a equipe germânica. Sendo assim, vão-se os troféus e ficam os memes. 

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