É a história mais antiga: luz versus escuridão, como diz um dos personagens de True detective. Um dos maiores fenômenos recentes da TV mundial em crítica, audiência e teorias de fãs, a série da HBO parece fruto de uma conjunção exata de talentos. É um desafio pensar em um aspecto técnico do programa que não mereça elogios, da direção às atuações, da trilha sonora aos filtros de imagem, do roteiro à abertura. Quem não acompanhou os oito episódios da série, exibida no começo do ano, ganha agora uma oportunidade com o lançamento do DVD oficial, com três discos e extras.
Para se ter uma ideia do impacto, Matthew McConaughey, que estrela a série junto com Woody Harrelson, ganhou o Oscar deste ano por Clube de compras de Dallas, mas talvez merecesse mais o prêmio de atuação pelo programa televisivo. Ele vive com maestria as três fases de Rust, um policial pessimista, atormentado por um passado trágico e brilhante, que investiga com seu parceiro experiente, Marty (Harrelson, de Natural born killers), um crime bárbaro que parece se conectar a vários desaparecimentos – todos envolvendo jovens garotas e um pano de fundo religioso. O clima sombrio mostra uma Louisiana bela e melancólica ao mesmo tempo, como se contaminada pelo profundezas perturbadoras da mente humana.
Criada e roteirizada por Nic Pizzolatto (colaborador de The killing), a série é uma homenagem às antigas histórias de mistério, que flertavam com o sobrenatural. O enredo, no entanto, revela que o nosso espírito é às vezes mais sombrio do que a fantasia. Para além da ambientação, os recursos narrativos são ousados. Existem três momentos habilmente encadeados na trama: a investigação original (1995), a briga entre os parceiros (2002) e o presente (2012). Chaves simbólicas, como a imagem de um Rei Amarelo e de um lugar chamado Carcosa, só acrescentam a impressão de que algo mais sério está sempre acontecendo fora da superfície das cenas – e as expectativas não são frustradas. A abertura, com canção da The Handsome Family, é também um exemplo de como tudo é bem pensado e bem executado na série.
A aclamação crítica de True detective talvez só seja comparável com a de dois programas recentes da TV: Breaking bad e Mad men. Mas mesmo esses dois demoraram a atingir o status de dela. A audiência – média de 11 milhões – foi a maior para uma estreia da HBO desde 2001, desbancando início de títulos hoje populares, como Game of thrones.
Com tanta repercussão, a série foi renovada para uma segunda temporada, com um novo arco narrativo (ou seja, sem McConaughey ou Harrelson). Para se ter uma noção do sucesso, chegou-se a especular que Brad Pitt poderia ser convidado; atualmente, o nome de Colin Farrel (Miami Vice) circula pela imprensa americana. A estreia será só em 2015, com a promessa de alguma mudanças: o programa não será dirigido só um por diretor (Cary Fukunaga comandou a primeira temporada, com direito a um inesquecível plano-sequência) e, desta vez, a promessa é ter três protagonistas. O cenário também mudou: será na Califórnia, mas longe de Los Angeles e de lugares óbvios. “E nós vamos tentar capturar um certo clima de psicopatia, como fizemos na primeira temporada”, revelou Pizzolatto.