Não foi apenas a seleção que não esteve bem das pernas, na Copa 2014, música feita para o Mundial oferecida esteve bem abaixo do propalado nível de qualidade do padrão Fifa. Mistura de axé com r&b, e o que chamam hoje de música pop, no disco oficial da Fifa. Porém já perto das seminais, soou uma nota destoante, na música Reclaim the game (Funk Fifa), do grupo ingles Pop Will Eat Itself, e o rapper carioca BNegão, que ressalta que não era conta a Copa, nem dos que torciam para o Brasil perder: “Estava na terceira via, dos que gostam de futebol, mas ao mesmo tempo é contra a Fifa, que lucra bilhões, e diz uma entidade sem fins lucrativos. A música foi saiu muito em cima, não deu pra promover muito, mas ela foi bastante comentada. As pessoas me alertaram que a música poderia fechar algumas portas. Mas foi para fazer este tipo de música, de denúncia e reivindicações que entrei nisto”, comenta BNegão, que se apresenta hoje no Festival de Inverno, com Nação Zumbi e Otto.
Filho de ativista político dos anos 60, Bnegão conta que cresceu com o pai ameaçado de a qualquer momento ser preso pela ditadura: “Ele foi do diretório da Faculdade de Direito, quando a coisa ficou pesada, não chegamos a ir para ao exterior, até porque a gente não tinha condições. Mas morei a vida inteira em Santa Teresa, que era o bairro ideal para quem estava numa situação assim. Por isso muitos ativistas moraram lá. O bairro tinha trinta saídas, dava sempre para escapar dos homens. Hoje mudou muito, mas naquele tempo era o local”.
Reclaim the game (Funk Fifa), foi gravada no Brasil e Inglaterra, e BNegão diz que não titubeou em aceitar o convite da Pop Will Eat Itself: “Curtia muito a banda, desde os tempos da Fluminense FM, e outras alternativas do Rio, que tocavam muito “Def. Con. One, música do grupo, que foi dos primeiros a misturar rock com eletrônica e política. O vocalista da Pop Will Eat Itself mora metade do ano na Inglaterra, metade do ano no Rio, onde tem um restaurante de comida vietnamita. Veio o convite e aceitei”, diz, acrescentando que a música não estará no repertório que apresenta com os Seletores de Freqüência no FIG: “Não dá, tem muito lance eletrônico, e nosso tempo no palco é de apenas 50 minutos. Vamos tocar parte do primeiro disco, Enxugando gelo, e do mais recente, Sintoniza lá. Espero voltar ao Recife e fazer u show completo, inclusive incluindo músicas instrumentais, que vão estar no próximo disco: ‘Temos já uns vinte temas instrumentais para este disco, que está previsto para ser lançado até novembro. Ao mesmo tempo estamos relançando Enxugando gelo em vinil”.
Da geração anos 90, sua primeira banda de renome foi o Funk Funkers, da qual saiu para o Planet Hemp, de onde saiu, em 2001, para fundar BNegão e Os Seletores de frequência. Enxugando gelo, o álbum de estreia, é de 2003, o segundo saiu oito anos depois. Desde então ele o grupo viajam com a turnê Sintoniza lá: “É legal a gente trabalhar de outra forma. Não tem música de trabalho, como no tempo das gravadoras. A gente se adapta ao mercado. Veio um tempo em que o mercado aqui estava muito ruim, e fomos para o exterior. Teve época de passarmos três meses direto lá fora. Quando fica ruim lá fora, a gente volta a tocar mais no Brasil”.
Hoje Bnegão divide palco com Otto e Nação Zumbi, músicos que ele chama de “irmãos”, que se conhecem desde meados dos anos 90: “A gente vem se vendo há anos, se encontrando em festivais, nos shows. Ninguém combinou nada, nem sei se vai ser possível. Mas está resolvido. Se der, rola participação com eles”.