Djavan completa 40 anos de carreira, contados a partir do compacto duplo puxado por Fato consumado (1975, Som Livre), e celebrar a data com a caixa Djavan – obra completa 1976-2010 18 álbuns de carreira, dois de raridades, toda sua obra, mais dois CDS. Um deles com gravações de composições de terceiros, que não estão em seus discos de carreira, e o segundo com versões de suas músicas, em espanhol e inglês: “A Sony me propos esta ideia, por causa dos 40 anos, mas é também foi uma oportunidade de trazer minha obra para uma sonoridade atual, já que todas as rádios hoje operam com som digital. Foi também uma oportunidade de mexer em algums músicas que não estavam com a mixagem que eu desejaria, além de corrigir informações em letras, nos créditos. Mas são modificações não alteram os discos, ou pelo menos as pessoas não vão notar tanto. A remasterização apenas trouxe mais volume, não me modificou as músicas”, explica Djavan, em entrevista por telefone.
Ele voltou a escutar todos seus discos, um a um, em ordem cronológica. Voltando 38 anos no tempo até A voz, o violão, de Djavan, o LP de estreia, produzido pelo lendário produtor Aloysio de Oliveira, ex-Bando da Lua, o grupo que acompanhava Carmem Miranda, e criador do não menos lendario selo Elenco: “Passei mais de um ano ouvindo minhas músicas. Não mixei nada neste disco, que foi muito bem gravado, com um grande produtor. Levei dois meses gravando, hoje levo pelo menos cinco meses para terminar um disco. Na época foi até muito tempo. Hoje me demoro mais porque faço tudo, das músicas, aos arranjos, a produção, a mixagem”, comentaDjavan. Ele lembra que entrou em estúdio com 60 composições prontas, das quais Aloysio Oliveira selecionou uma dúzia. Apenas quatro não eram sambas: “Pensei: o que vai ser? Era o meu primeiro e mais que esperado disco - eu tinha que acertar. Enfim, ele me chamou e disse: tenho as 12, mas você pode mudar, se quiser. E me deu uma relação com oito sambas. Eu olhei para aquilo e pensei: meu Deus, não é isso! Tive vontade de discutir, mas temia que ele estivesse certo. E estava! A diversidade que eu queria mostrar já no primeiro disco, ele viu nos sambas que escolheu”.
Djavan confessa que não costuma ouvir os próprios discos, depois que são lançados: “Ouço várias vezes o disco novo, quando vou começar a fazer o show com aquele repertório. Desta vez ouvi toda a obra, sabendo que iria ser difícil, que cada música iria me transportar para o tempo em que foi feita, me trazer momentos de volta, ao mesmo o desconforto de ouvir um arranjo não foi o mais acertado, um som que ficou datado. Mas depois passei a ver aquilo como o que realmente era, um trabalho, me concentrei em cada uma música”. Ele diz nna quase totalidade dos discos a mudança deu-se apenas na masterização “O que a masterização muda é o volume. A música fica com muito mais volume”. Mas em Vaidades ele modificou algumas faixas: “Pelo desejo de melhorar o que precisava continuar sendo o que sempre foi: níveis de alguns instrumentos, equalizações, coisas que incomodavam só a mim”. Já o Matizes, reeditado para esta caixa, soa bem diferente do que o original de 2007: “o único que remixei integralmente. Na época, saí desse disco com a sensação de dever não cumprido. Não administrei bem os problemas que o envolveram e o resultado final não me satisfez totalmente. Mas, como o tempo urge, o esqueci. Agora, ao reouvi-lo, logo identifiquei tudo o que precisava ser feito e o disco se revelou outro - nuanças perdidas deram o ar da graça, arranjos soaram imperativos, vozes como eu sempre quis ouvir”, explica o cantor.
No texto que escreveu para estes relançamentos, Djavan tece comentários sobre cada um dos discos, como lembra episódios marcantes de quando foram gravados. Em 1982, Djavan vendia o suficiente para se tornar prioridade da Sony Music. O então presidnete da multinacionao no Brail, Thomas Muñoz, pensava grande para o alagoano. Pretendia não apenas que ele fizesse seus discos nos Estados Unidos, com também que morasse lá. Djavan concordou em fazer o disco em Los Angeles, mas não em mudar de país. Em março de 1982, ele vijou com a banda Sururu de Capote para travar o que seria um de seus discos mais bem sucedidos, Luz: “Desembarquei em Los Angeles para gravação do Luz, com a participação de músicos americanos, ou radicados lá, e o Stevie Wonder. Era muita coisa num só momento. Quando se abriu a possibilidade de participação do Stevie, eu já tinha a música certa para recebê-lo: Samurai. Ele chegou para gravar a bordo de um Rolls Royce marrom. Estávamos todos à porta do estúdio pra vê-lo chegar. Foi uma alegria. Stevie sentou ao piano e começou a tocar a esmo: Cole Porter, Irving Berlin, Gershwin. Em dado momento, disse: acabei de compor uma nova canção. E começou a cantar Overjoyed. Em seguida, quis ouvir o que tinha do disco. Tinha tudo, praticamente. Depois, ouviu Samurai, umas quatro ou cinco vezes, pegou a harmônica, saiu tocando junto, barbarizou”.
EXTRAS
As raridades estão distribuídas por dois CDS. Puzzle of hearts é como se intitulou Oceano na versão em inglês, e Stephen’s kingdom éa versão de Soweto. Ambas inéditas em lançamento nacionais, são duas das 15 faixas do CD de canções de Djavan vertidas para o espanhol e o inglês, em disco produzidos para o mercado externo, onde ele há alguns anos circula, sem precisar mudar de idioma para ser apreciado. Não vão´ muito além da curiosidade, como, por exemplo, Açai em espanhol (permaneceu com o mesmo título), ou Curumin, que em inglës chama-se Amazon farewell. Mais interessante são as canções que Djavan gravou para projetos variados, feito a trilha do filem Para viver um grande amor, em que canta três músicas, uma delas Sabe você (Carlos Lyra/Vinicius de Moraes), ou Tarzan, o filho do alfaiate, para o songbok de Noel Rosa, da Lumiar: “Algumas, eu nem lembrava mais que havia gravado”, comenta Djava. Pena que nos extras não tenham incluído canções gravadas e deixdas de lado, outtakes de discos de carreira: “Sempre sobra alguma. Tem muita coisa escondida”, confirma o cantor.