"O que me separa da Comadre Florzinha são 18 anos. Eu até entendo, embora não concorde, que tenha esta referência mais urbana minha música. Mas continuo fazendo basicamente a mesma coisa, o que me faz diferente mesmo é o tempo. Tenho escutado muito a música africana e da América Latina. O que difere basicamente a sonoridade dos discos novos e Brinquedo de Tambor, de 2005, é a bateria. Aquele disco já tem três guitarras, e mesmo a bateria é um instrumento montado, feito para este trabalho", explica Alessandra Leão, comentando a trinca de EPs que lançou num espaço de menos de um ano, um disco de cada vez.
O primeiro, Pedra de Sal, é do final do ano passado, seguido por Aço, de maio deste ano e, por fim, Língua, lançado semana passada. Todos com selo Garganta Records / YB Music e disponíveis para download no site da cantora (http://alessandraleao.com.br/). Um trabalho complexo, que tem muito de literatura (ela própria trata os discos por "capítulos"), um mergulho na subjetividade, refletido em cada deles. Pedra de Sal seria a imersão, Aço o alcançar da profundezas, enquanto Língua seria a volta a superfície. "A gente buscou uma sonoridade específica para cada momento. Então, é natural que Aço, por exemplo, seja mais denso: são as vísceras. Enquanto Pedra de Sal é alma e ossos. Língua é mais leve, são as sensações do corpo, mas também a língua, idioma",continua Alessandra.
A canção que abre o repertório de Língua, Pássaros, Mulheres e Peixes vales-e de trechos de uma crônica de Xico Sá (que entra como parceiro). Caudaloso, que fecha (com Doutrina de Oxum) o EP tem inspiração num poema do cineasta e escritor Wilson Freire. Os três discos são complementados pelo projeto gráfico e pelos textos de apresentação assinados por, entre outros, Chico César, Artur Farias (músico gaúcho), Tulipa Ruiz, Micheliny Verunschk (poetisa pernambucana) e a própria Alessandra Leão. "Do que fala um livro? Todo livro fala do mundo. Não esse mundo apenas, esse ao qual nos habituamos. Todo livro fala do mundo que podemos inventar, ou daquele que é invisível, ou ainda daquele que vemos, mas não compreendemos", afirma trecho do que escreveu Micheline para Língua.
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