José Rozenblit, criador da gravadora Rozenblit, morre aos 89 anos

Empresário mudou a história da música pernambucana
JOSÉ TELES
Publicado em 29/10/2016 às 23:03
Empresário mudou a história da música pernambucana Foto: foto: reprodução


José Rozenblit, fundador da Fábrica de Discos Rozenblit, ex-presidente do Sport Club Recife, faleceu hoje, aos 89 anos, no Hospital Santa Joana em consequência de um AVC. A morte foi anunciada, agora à noite, no perfil do Facebook, do produtor de discos Hélio Rozenblit, seu filho. O enterro acontece às 10h do domingo, no cemitério Israelita.

Nascido na Boa Vista, de uma família judia de origem romena, ele mantinha uma das lojas mais elegantes do Recife, e mais modernas do país, com cabines individuais para audição dos discos, cabines onde se podia gravar em acetato e, aberta pra o público até as às 22h. Inicialmente na da Palma, em 1950, a Irmãos Rozenblit, ou Loja do Bom Gosto ganhou uma filial na Rua da Aurora, 77, ambas no Centro da capital pernambucana. Uma loja de discos, onde se vendiam aparelhos de som, eletrodomésticos e móveis.

 José Rozenblit contava que não se conformava com a forma com que as gravadoras do Sudeste tratavam a música pernambucana, e resolveu apostar no frevo. No final de 1952, depois de uma conversa com o maestro José Menezes, também compositor, resolveu bancar um 78 rotações com Come e Dorme, frevo de rua de Nelson Ferreira, e Boneca, frevo canção de Aldemar Paiva e José Menezes, interpretado por Claudionor Germano. As músicas foram gravadas no Estúdio da Rádio clube de Pernambuco e o disco fabricado na Sinter, no Rio.

Até então a música do carnaval pernambucano era gravadas por estrelas do rádio, pelas grandes gravadoras cariocas. As composições escolhidas numa espécie de festival, de que participavam comerciantes e representantes das gravadoras. Estas por sua vez acertavam previamente com os lojistas, e produziam os discos desde que tivessem garantida uma quantidade mínima de encomendas dos 78 rotações.

 O disco de frevo com selo Mocambo foi lançado no início de janeiro de1953, com mais dois 78 rotações, da gravadora Secco (empresa americana especializada em música latino-americana hispânica), de Eva Garza e Bienvenido Granda.  A boa aceitação dos discos, levou José Rozenblit a associar-se com dois irmãos e um sócio para levantar a Fábrica de Discos Rozenblit, na Estrada do Remédio, inaugura em 1954, que ficou conhecida como a “Mocambo”, nome do seu selo mais conhecido.

NACIONAL

No auge, a gravadora teve filiais no Rio, São Paulo e no Rio Grande do Sul. E teve entre seus contratados Tom Zé (lançou o álbum de estreia do baiano), Eliana Pittman, Martinha, Bobby de Carlos, Jorge Ben, Sílvio Caldas, The Bubbles, entre muitos outros. A Rozenblit também deu as cartas no carnaval carioca, nos anos 60. Zé Kéti, por exemplo,  estourou, em 1966, com a marcha rancho Máscara Negra. E o sambista Osvaldo Nunes foi sucesso no país inteiro com o Bafo da Onça, do LP Oba (1962) , e Jorge Goulart lançou pela Rozenblit, em 1963, um dos maiores hits da história do carnaval brasileiro, Cabeleira do Zezé (Roberto Faissal/José Roberto Kelly).

 O maior sucesso da gravadora com a música pernambucana foi o frevo de bloco Evocação, de Nelson Ferreira, campeão do Carnaval Brasileiro de 1957, gravado há 60 anos.  Em 1959, para o Carnaval de 1960, lançou um dos discos mais vendidos da música popular brasileira, até hoje em catálogo, Capiba 25 Anos de Frevo, com a orquestra de Nelson Ferreira e interpretados por Claudionor Germano. Simultaneamente foi gravado o LP O Que Eu Fiz e Você Gostou, com músicas do maestro Nelson Ferreira, também na voz de Claudionor Germano.

A Rozenblit gravou forrozeiros, como Genival Lacerda, Coroné Ludugero, Jacinto Silva e o sanfoneiro Camarão, discos de ciranda, de repentistas, cocos e emboladas. Nos anos 70, cedeu o estúdio para a turma do udigrudi recifense. Foram gravados na Rozenblit discos experimentais, como o pioneiro Satwa, de Lailson e Lula Côrtes (1973), Paêbiru (1975), de Lula Côrtes e Zé Ramalho, e discos solo de Flaviola e o Alegre Bando do Sol (1976), e de Lula Côrtes, Rosa de Sangue (1980).

A Fábrica de Discos Rozenblit existiu durante 30 anos Começou a decair nos anos 70, por motivos variados, um deles, as grandes inundações periódicas que castigaram o Recife, e destruíram equipamentos e acervo da gravadora. Bastante debilitado por um AVC, a última aparição pública de José Rozenblit, foi em 2003, quando foi o homenageado do Carnaval do Recife.       

TAGS
josé rozenblit Morte
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory