Luiz Felipe Pondé discutiu a felicidade no Teatro RioMar

Palestra do filósofo recifense alertou para a toxicidade das redes sociais e a saturação da informação, que criam tensão
JC Online
Publicado em 08/11/2018 às 5:00
Palestra do filósofo recifense alertou para a toxicidade das redes sociais e a saturação da informação, que criam tensão Foto: Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem


Quanto custa a sua felicidade? Foi em busca desta resposta que o filósofo recifense Luiz Felipe Pondé, de 59 anos, desembarcou em sua cidade natal para conversar com o público sobre o assunto nesta quarta-feira (7) no Teatro RioMar, no Pina.

Antes mesmo de chegar na capital pernambucana, o pensador – que hoje mora em São Paulo – conversou por telefone com o comunicador Geraldo Freire, da Rádio Jornal, no quadro Passando a Limpo, junto a outros jornalistas. Na conversa de vinte minutos, o filósofo, autor do best-seller Guia Politicamente Incorreto da Filosofia (Leya, 2012) e do recente Espiritualidade para Corajosos – A busca de sentido no mundo de hoje (Planeta, 2018), falou um pouco da sua preocupação em busca da felicidade plena.

“A felicidade passa hoje pelo sucesso profissional, pela ampla e infinita dependência do reconhecimento pelas mídias sociais – e isso tem criado um nível alto de ansiedade entre os mais jovens. Então a ideia da felicidade a qualquer custo é, na verdade, uma reflexão sobre o quanto a obsessão pela felicidade gera patologias relacionadas à felicidade”, afirmou.

Com a popularidade e propriedade de quem fala sobre comportamento, religião, política e ciências para mais de 26 milhões de pessoas em seu canal no YouTube, Pondé também falou na rádio sobre a “tensão pós-eleições” que se deu no Brasil.

“Estávamos numa polarização grande. Os estudos que os americanos têm feito sobre comportamento do eleitor mostram que as pessoas normalmente discutem política mesmo para brigar. Quem discute, implicado com um ponto de vista, nunca discute para entender o ponto de vista do outro. Ele discute para convencer o outro do que ele acredita. E as mídias sociais nesse sentido se transformam numa espécie de cultura de bactéria, em que esse tipo de comportamento se transforma num comportamento epidêmico”, explicou.

Diante disso, para o filósofo, a felicidade, na verdade, pode depender de um certo estado de “relaxamento”. “Para você ser feliz, você tem que relaxar. A felicidade é uma forma de relaxamento. Como a polarização e a contínua polarização vai continuar existindo, essa tensão não vai acabar, é como se você tivesse que ficar de guarda o tempo inteiro”, diz ele, que completa: “Acho que quando se tem muita informação, e muita informação gera saturação, gera tensão. E ninguém relaxa tendo que saber tanta coisa na vida”.

NO PALCO

Boa parte do que Luiz Felipe Pondé conversou com Geraldo Freire pela manhã, foi exposto ontem à noite no Teatro RioMar, quando subiu ao palco, pontualmente às 20h30. Para o filósofo, a busca pela “tal da dona felicidade” tem que ser ponderada para não se tornar algo nocivo. “Hoje em dia, quase o tempo todo. O nome desta palestra significa justamente isso: quando a busca de felicidade se transforma numa obsessão, num gerador de ansiedade – portanto no seu contrário – quando acaba diminuindo a sua percepção de realidade, reduz sua capacidade cognitiva, perda de amadurecimento. Essas são algumas características”, enumerou em conversa com a reportagem do Jornal do Commercio.

Nos primeiros minutos de seu contato direto com o público, Pondé relembrou suas origens em Boa Viagem e contou uma de suas primeiras indagações sobre a felicidade ao escrever um artigo intitulado Deus me livre de ser feliz para a Folha de S.Paulo no ano de 2011, onde é colunista até hoje.

Trazendo um vocabulário de fácil compreensão, o filósofo arrancava risos da plateia com exemplos práticos, que geravam uma identificação. Sua tentativa de ser “menos acadêmico” também se refletia no figurino escolhido: um tênis estilo all-star, calça jeans, blazer e camisa brancas.

“Uma das tentativas de ser feliz é tentar provar o quanto você é legal”, afirmou ele, que também reforçou como a vida artificial das redes sociais é o principal combustível de ansiedade. Também houve espaço para falar de política novamente. Reforçou as tensões, a polarização nas discussões eleitorais dentro e fora das plataformas digitais, e ainda mencionou a recente polêmica da Escola Sem Partido, onde criticou a atitude de filmar “possíveis doutrinações” de professores em salas de aula e os perigos da tensão que pode gerar.

Em pouco mais de uma hora, a palestra de Luiz Felipe Pondé pode ser resumida na seguinte sentença dita por ele no palco: “Felicidade a todo custo é uma das formas de ser infeliz”.

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