A queda dos preços do petróleo, o fim do "superciclo" das commodities e os estragos recentes do jihadismo na França, na Nigéria e no Oriente Médio devem dominar grande parte dos debates no Fórum Econômico Mundial, que se inicia na quarta-feira (21), na cidade suíça de Davos.
Mais de 2.500 participantes de 140 países, incluindo mais de quarenta chefes de Estado e de governo e um enorme grupo de empresários, terão a oportunidade, até o próximo sábado (24), de analisar a atual crise econômica, política e tecnológica, expandir a sua rede de contatos e explorar possíveis contratos e acordos. Estarão protegidos, como todos os anos, por um impressionante esquema de segurança dotado com cerca de 3.000 militares e numerosos policiais.
A queda acentuada dos preços do petróleo, um quebra-cabeça para os países produtores, será uma das questões centrais desta 45ª edição. A queda generalizada dos preços das matérias-primas, depois de um "superciclo" de 12 anos, será abordada nas discussões sobre as perspectivas para a América Latina, que estará representada por grandes delegações do Brasil, México, Colômbia, Peru e Panamá. Além de vários ministros, dois presidentes da região estarão presentes: o peruano Ollanta Humala e o panamenho Juan Carlos Varela.
O novo ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, será ouvido com especial atenção por parte dos líderes e empresários reunidos nos alpes, ansiosos para saber os caminhos a serem seguidos pela economia brasileira, estagnada e com uma elevada inflação, que em novembro ultrapassou o teto de 6,5%.
Nos debates previstos, os BRICS terão um menor destaque do que nas edições anteriores, em um contexto delicado para este grupo de grandes emergentes, reflexo de uma forte desaceleração, e onde a Rússia, às portas da recessão, parece particularmente enfraquecida pela queda dos preços do petróleo e as sanções ocidentais impostas por seu papel no conflito na Ucrânia.
Conflitos
Precisamente, os conflitos, com especial atenção para as guerras no Iraque e na Síria, terão um espaço de destaque nos auditórios, tribunas e corredores. "O terrorismo e a geopolítica farão sombra sobre o Fórum Mundial deste ano. Ambos representam ameaças para a estabilidade política na Europa, Oriente Médio e África. As negociações entre os líderes do Fórum irão se concentrar nesses aspectos, certamente", declarou à AFP o economista-chefe do gabinete IHS, Nahriman Behravesh.
A edição de 2015 acontece pouco depois dos ataques jihadistas em Paris e da última grande ofensiva do grupo islamita nigeriano Boko Haram, que realizou no noroeste do país o pior massacre desde o início de sua sangrenta insurgência há seis anos.
Outra questão quente será a das desigualdades econômicas. A Oxfam previu nesta segunda-feira que os recursos acumulados pelo 1% mais rico do planeta ultrapassarão a riqueza do resto da população em 2016, e por isso insta os líderes internacionais a trabalhar para diminuir as desigualdades.
Para discutir essas questões, entre outras, estarão em Davos o primeiro-ministro iraquiano, Haidar al Abadi, o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, e o líder do Curdistão iraquiano, Massud Barzani.
Também viajarão à Suíça o secretário de Estado americano, John Kerry, o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, o seu homólogo chinês, Li Keqiang, e o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko. Do lado europeu, haverá uma representação significativa, incluindo o presidente francês, François Hollande, a chanceler alemã, Angela Merkel, e primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi.
Atenção à Europa
A interminável crise da Eurozona, ameaçada de deflação e com crescimento muito baixo, também serão abordados. As discussões deste ano vão focar em dois importantes eventos: a reunião do BCE na quinta-feira 22 de janeiro, após a qual o zona do euro poderia anunciar um ambicioso plano para compra de ativos financeiros, e as eleições gregas no domingo dia 25, que podem ser vencidas pelo partido de esquerda Syriza, contrário às medidas de austeridade e que planeja uma ampla reestruturação da dívida pública.
Também serão discutidas futuras revoluções tecnológicas e científicas, com participantes como Jack Ma, fundador da plataforma de vendas online Alibaba, a CEO da General Motors, Mary Barra, e a do Yahoo, Marissa Mayer.
Ao seu lado estarão os chefes das principais organizações econômicas internacionais, como o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, a diretora do FMI, Christine Lagarde, e vários bancos centrais, incluindo do Japão, Inglaterra, Brasil e México.