O governo grego trabalha para apresentar, em um prazo de 48 horas, as reformas necessárias para ratificar o acordo de financiamento alcançado com a Eurozona e preservar algumas das promessas eleitorais que o levou ao poder.
A Grécia espera ter assegurado na sexta-feira (20) a sobrevivência orçamentária, depois de obter quatro meses adicionais de financiamento, após três rodadas de negociações com os sócios europeus, que exigiram condições severas para o acordo.
O governo de esquerda do primeiro-ministro Alexis Tsipras tem agora que aproveitar a estreita margem de manobra permitida pelo compromisso.
Ele tentará isto com o catálogo de reformas que os credores, conhecidos agora como "instituições" e não "troika" (UE, Banco Central Europeu e FMI), exigem que apresente até a segunda-feira à noite para concluir o acordo de financiamento.
Em um discurso neste sábado (21), Tsipras celebrou um acordo que "deixa para trás a austeridade, o memorando, a troika", mas reconheceu que o país enfrenta um futuro complicado.
"Ganhamos a batalha, mas não a guerra. As dificuldades reais estão diante de nós", afirmou o premier.
"Caso rejeitem as propostas gregas, teremos um problema (...) e o acordo estará morto, mas não será o caso", declarou algumas horas antes o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, em Bruxelas.
Os outros 18 ministros das Finanças da Eurozona estudarão a lista de reformas na terça-feira (24), em uma reunião por telefone do Eurogrupo.
O presidente francês, François Hollande, afirmou neste sábado (21) que o acordo é um "bom compromisso".
De acordo com Varoufakis, Atenas deveria acabar com algumas medidas que eram solicitadas pelos credores para fechar a ampliação do resgate, que terminaria em 28 de fevereiro. Atenas não terá que aumentar o IVA, nem cortar as pensões ou seguir adiante com a flexibilização do mercado de trabalho.
Isto permite ao governo grego apresentar-se agora como "coautor das reformas e de seu destino", e não mais como um aluno submisso.
A Grécia cede ou ganha tempo?
Nada garante, no entanto, que Tsipras consiga a aprovação da Eurozona sobre a aplicação de grande parte de seu programa: aumento do salário mínimo e das pensões para os mais pobres, proteção ante os despejos ou o fim das privatizações.
Todas as medidas têm um custo orçamentário e a Grécia se compromete no acordo a não adotar medidas com impacto negativo sobre os objetivos orçamentários, a recuperação econômica e a estabilidade financeira".
O pacto exclui que Atenas possa utilizar os quase 11 milhões de euros do fundo de estabilidade bancária para outra coisa que não a proteção do sistema financeiro. A Eurozona não concederá o dinheiro do programa de ajuda que não foi utilizado (3,6 bilhões de euros) antes de uma segunda avaliação das reformas, em abril.
Mas a Grécia conseguiu, no entanto, uma meta de superávit primário menos elevada que a exigida pelos credores. A única concessão da Eurozona no plano financeiro.
O governo grego se comprometeu na sexta-feira a priorizar as reformas mais consensuais, como a luta contra a fraude fiscal, a corrupção, a reconstrução da administração pública e também "a resposta à crises humanitária".
"As medidas com custo financeiro são congeladas", afirma o jornal grego Ethnos. Ao mesmo tempo, no entanto, a imprensa destaca o tempo que a Grécia ganhou para realizar as próprias reformas.
A imprensa conservadora alemã apresenta uma interpretação totalmente distinta do ocorrido.
"A Grécia pode enterrar seus sonhos políticos", afirma o jornal Die Welt, enquanto o o popular Bild celebra o "êxito para Schäuble", em referência ao ministro alemão das Finanças, ante uma Grécia que "cede".
"Os gregos não têm mais nada para conseguir. Tenho certeza de que sempre terão que ceder, como ontem", prevê Daniel Gros, diretor do Centro de Estudos Políticos Europeus.
Atenas terá que negociar um novo acordo de financiamento com seus credores até o fim de junho.