Os gregos acordaram nesta segunda-feira (29) com bancos e caixas eletrônicos fechados e diante de um clima de rumores e teorias de conspiração, depois que o colapso nas conversas entre Atenas e seus credores aprofundou o país ainda mais na crise. Os caixas automáticos começaram a funcionar no país de maneira gradual, depois da publicação de um decreto governamental deste domingo que determinou o fechamento dos bancos e dos mercados até 7 de julho e limitou a retirada de dinheiro a 60 euros diários.
A ativação dos caixas estava fixada para 12 horas depois da publicação do decreto, que aconteceu a meia-noite. Na Grécia existem cerca de 5.500 caixas automáticos. Em Atenas as pessoas já faziam filas em muitos deles.
"Tenho cinco euros no meu bolso, pensei em tentar a sorte aqui e pegar algum dinheiro. As filas no meu bairro estavam muito longas ontem", disse o encanador Yannis Kalaizakis, de 58 anos, do lado de fora de um caixa vazio no centro de Atenas nesta segunda-feira. "Não sei mais o que dizer. Está uma bagunça."
PENSÕES A APOSENTADOS - Em alguns bancos, aposentados esperavam poder receber informação sobre o pagamento de suas pensões que, segundo o decreto, não fazem parte destas limitações. Muitos aposentados na Grécia não têm cartões de crédito ou débito e dependem exclusivamente de suas cartilhas, por isso o fechamento bancário representa um golpe especialmente forte para esse grupo.
O documento publicado na noite de domingo diz que poderão ser realizados pagamentos com cartão no país assim como transações internas através dos serviços bancários das páginas na internet. As transações ao estrangeiro serão restringidas às necessidades urgentes como a compra de remédios e o pagamento de serviços médicos.
As medidas relativas ao controle de capitais não serão aplicadas aos turistas, que poderão realizar transações e retiradas de dinheiro nos caixas automáticos com os cartões de crédito ou débito emitidos em seus países de origem.
DESCRENÇA E MEDO - A Grécia tem menos de 48 horas para pagar 1,6 bilhão de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI), e um calote vai desencadear eventos que podem levar à saída do país da zona do euro.
Mas, depois de Tsipras ter irritado os credores internacionais da Grécia ao anunciar um referendo para o próximo domingo sobre os termos do acordo de reformas em troca de dinheiro, as esperanças de um avanço de última hora estão acabando rapidamente. Os gregos reagiram com uma mistura de descrença e medo.
"Não posso acreditar", disse a moradora de Atenas Evgenia Gekou, de 50 anos, em seu caminho para o trabalho. "Continuo achando que vamos acordar amanhã e tudo estará bem. Estou tentando muito não me preocupar." Autoridades europeias enviaram sinais confusos sobre seus próximos passos. Um porta-voz da Comissão Europeia disse a uma rádio francesa que Bruxelas não fará nenhuma nova proposta nesta segunda-feira.
Ele aparentemente contradiz as declarações do comissário econômico da UE, Pierre Moscovici, que disse que uma nova oferta estava vindo e que os dois lados estavam "a apenas alguns centímetros" de um acordo. Após meses de brigas, os parceiros europeus da Grécia colocaram a culpa pela crise em Tsipras.
Os credores querem que a Grécia corte aposentadorias e eleve impostos de maneiras que Tsipras há muito argumenta que vai aprofundar uma das piores crises econômicas da era moderna em um país onde um quarto da força de trabalho já está desempregada.