Esqueça qualquer traço da melancolia e da saudade tradicionalmente atribuídas a Portugal. Lisboa, a capital do país, é alegre, criativa e se destaca como uma das principais cidades da Europa para quem quer empreender, inovar e viver numa autêntica aldeia global. Ligados fisicamente ao mundo por uma malha aérea que se estende para além do continente europeu e chega à África, à América do Norte e do Sul e até a algumas regiões da Ásia, os lisboetas replicam a ousadia dos grandes navegadores do passado e se arriscam com tudo nos mares digitais e da indústria criativa.
O vento a favor tem soprado com tanta força que a cidade já virou sede do maior encontro europeu de tecnologia, empreendedorismo e inovação e, este mês, a emissora de TV CNN voltou a elegê-la capital mais cool do continente – a primeira vez foi em 2014.
As razões elencadas pelo canal para conceder o título a Lisboa, e preterir concorrentes mais robustos como Londres, Paris, Madri e Berlim, estão a olhos nus para quem vive e visita a cidade: a gastronomia experimental, o design moderno, a arte, os castelos, as praias e, claro, a vida noturna. “Lisboa é uma cidade cosmopolita”, diz a restauradora alagoana Marta Tavares, que há 22 anos deixou o Recife para morar em Portugal. “Tem uma noite agitadíssima e aqui você encontra gente de todo o mundo, o italiano, o francês, o paquistanês, o indiano, o chinês, o japonês, uma grande diversidade cultural”, completa.
Noite agitada, mar com ondas gigantescas, diversidade cultural e boa infraestrutura tecnológica foram também os motivos que levaram o irlandês Paddy Cosgrave a transferir para Lisboa a sede do WebSummit, evento de três dias que reuniu em novembro cerca de 50 mil dos mais importantes profissionais de tecnologia e empreendedorismo do mundo.
Criado em 2010, o encontro sempre ocorreu na capital irlandesa, Dublin. No ano passado, o organizador visitou Portugal, gostou do que viu e decidiu que as três edições seguintes já seriam realizadas no país, a começar pela de 2016. Calcula-se que evento injetou € 200 milhões, cerca de R$ 666 milhões, na economia local. "O impacto poderá ser analisado dentro de cinco a 10 anos do ponto de vista de como ajuda as empresas portuguesas", disse Cosgrave no discurso de encerramento.
Além das características culturais da cidade, iniciativas institucionais, sejam estatais ou privadas, também tem alimentado a cena empreendedora em Portugal, principalmente depois que a crise econômica levou cerca de um milhão de desempregados a deixar o país, a maioria jovens recém-formados, e a abertura de novos negócios na área criativa foi uma das únicas opões oferecidas a quem não conseguiu arredar o pé.
Tem surgido, então, um ecossistema composto por investidores, incubadoras, espaços colaborativos e programas de aceleração. Espaços para abrigar as iniciativas não faltam, e criatividade para tocá-las também. A LX Factory é o exemplo mais explícito.
Desativada há anos, a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense teve sua sede de 23 mil m² transformada por uma emprea de investimento imobiliário em uma das principais áreas de empreendedorismo, lazer e entretenimento de Lisboa. O complexo de edifícios, construído na metade do século 19, nem chegou a ser reformado.
Mantém as características de um espaço fabril, inclusive com máquinas. Mas para onde se olha é possível ver um negócio, seja um restaurante no antigo armazém de ferramentas, uma agência de publicidade moderna no andar de escritórios ou uma livraria numa galpão gigante, com direito a café em meio à estrutura de um maquinário com mais de cinco metros de altura.
Os negócios da LX Factory são diversos e se retroalimentam. Os cafés e restaurantes são frequentados pelos visitantes, mas também pelos funcionários e empreendedores das outras empresas e muitas prestam serviço ou trabalham em parceria com os vizinhos. Nos fins de semana, o espaço se abre para os turistas e moradores da cidade, com feiras, exposições, espetáculos musicais e o que mais os operários do mundo criativos conseguirem imaginar e fazer.