Há 20 anos o mundo todo 'dá um Google '

Google é a terceira maior empresa do mundo, avaliada em US$ 851 bilhões, resultado de um domínio total de mercado que consolidou a internet como a usamos
LUCAS MORAES E LUIZA FREITAS
Publicado em 04/09/2018 às 6:35
Google é a terceira maior empresa do mundo, avaliada em US$ 851 bilhões, resultado de um domínio total de mercado que consolidou a internet como a usamos Foto: Foto: Google/ Divulgação


Há apenas 20 anos o mundo inteiro ainda cabia nos 16 volumes da enciclopédia Barsa. Pesquisas e consultas eram feitas manualmente em livros especializados e muitas vezes acessíveis apenas em bibliotecas ou, para os mais moderninhos, em CDs-ROM que não tinham sequer 600 MB de capacidade. No dia 4 de setembro de duas décadas atrás nascia a empresa digital que rapidamente transformou informação “materializada” em algo antiquado. E foi além. Hoje o Google é a terceira maior empresa do mundo, avaliada em US$ 851 bilhões, resultado de um negócio igualmente grandioso. A oferta gratuita de uma lista vasta de serviços usados por mais de um bilhão de usuários é bancada pelos anúncios de quem deseja alcançar esse público.

E não é pouca gente que está no Google. Através do buscador, 130 trilhões de endereços web já foram pesquisados. Esse grande fluxo de interação é justamente o alvo da monetização da companhia, que faturou US$ 31,1 bilhões nos primeiros três meses de 2018 e outros US$ 32,7 bilhões no segundo trimestre, numa alta de 26% em relação ao mesmo período de 2017, de acordo com dados divulgados pela holding Alphabet, proprietária do Google. No semestre, o lucro líquido da empresa soma US$ 12,5 bilhões (descontando multas acumuladas impostas pelo Comitê Europeu por práticas anticoncorrenciais). A empresa emprega 89 mil pessoas.

A principal plataforma de publicidade da gigante tecnológica, Google AdWords, garante aos anunciantes métricas cada vez mais precisas e, consequentemente, atrai mais publicidade seja para o site de buscas, sites e blogs parceiros e até mesmo o You Tube. “Hoje, a plataforma já consegue dar uma métrica muito detalhada. Você sabe quantas pessoas clicaram no seu anúncio, quantas vezes ele apareceu e para quantas pessoas, o que as pessoas ao ver a propaganda: compraram, colocaram no carrinho online ou saíram do site”, explica o co-fundador da agência e escola de marketing online Berlim Digital, Fellipe Maia. Segundo ele, a depender das variáveis de concorrência, do tipo de produto ou marca que está sendo publicizado, o custo por clique de uma palavra pode ser mais barato que  30 centavos, que quando multiplicado por milhares de usuários se transforma em “muito dinheiro”.

Através do Ads, pequenas e grandes empresas investem na publicidade. Nas busca do google, a partir de R$ 40 é possível iniciar uma campanha. Para ter visibilidade no site, além de pagar mais o anunciante precisa ter um índice de qualidade, com página de destino correspondente à busca, adaptada ao mobile e com bom percentual de cliques por aparição. Os quatro primeiros links são pagos, o restante aparece de forma orgânica, também com base em relevância estabelecida pelo Google, como a otimização para mecanismos de busca, SEO em inglês.

Além disso, o Google tem a rede de display – com mais de 90% dos sites e blogs disponibilizando espaço para o Google leiloar dentro do site espaço para anunciante e propagandas que surgem com base no interesse do usuário. Se você pesquisar por um tênis, muito provavelmente, as ofertas aparecerão. “Os sites estão disponíveis porque é uma das principais formas de ganhar dinheiro. O que a marca paga para aparecer nesse leilão é divido entre o Google e o site”, confirma Maia. Através do Ad também é possível anunciar no YouTube ou Google Shopping, por exemplo.

Sozinha, a plataforma de anúncios ajudou a gerar em torno de R$ 37 bi em atividade econômica no ano de 2015, além do lucro, apoiou aproximadamente 430 mil empregos no Brasil em 2015, de acordo com o Relatório de Impacto Econômico da Deloitte (2016). Um dos exemplos é a empresa pernambucana Ensinar Tecnologia, única autorizada a comercializar a nuvem do Google em Pernambuco. “Atuamos no segmento empresarial com a venda da nuvem Google e também na área educacional. Temos atualmente mais de 50 instituições de ensino clientes. O Google ClassRoom já é sistema de gerenciamento para aulas virtuais gratuito, nós otimizamos o uso dessa ferramenta, capacitando professores”, conta o proprietário da empresa Cláudio Castro, que fatura de R$ 800 a R$ 10 mil por pacote de treinamento.

“Toda empresa que tenha um domínio total, como é o caso do Google, provoca uma falha de mercado. Mas, sem dúvida, a empresa foi essencial para a consolidação da internet como a conhecemos hoje. Tanto que ‘dar um Google’ se tornou sinônimo de pesquisar”, ressalta o CEO da empresa de TI Pitang, Antônio Valença.

DA GARAGEM NOS EUA PARA A PALMA DA SUA MÃO

O nascimento do Google inclui todos aqueles estereótipos que cabem às histórias de empreendedorismo da era digital: nerds, uma garagem, protótipos improvisados e a transformação de soluções em algoritmos. Foi em 1995, na Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), que o americano Larry Page e conheceu o russo Sergey Brin e, um ano depois, começaram a trabalhar juntos no que se tornaria o Google.

O primeiro nome da ferramenta de busca que desenvolveram (usando um servidor montado com peças de Lego) foi BackRub. A mudança para o nome como o conhecemos veio de uma referência a uma expressão matemática que representa o número um seguido de cem zeros – a ideia era mostrar que os resultados para a busca eram quase infinitos e cada nova página cheia de links equivalia a uma letra “o” no nome da ferramenta.

A plataforma seguiu crescendo: em 2004 a marca cria seu o primeiro serviço além da busca, o Gmail, e no mesmo ano entra para a bolsa de valores Nasdaq, no dia 19 de agosto. A chegada ao Brasil aconteceu no ano seguinte, diretamente para a cidade de Belo Horizonte (Minas Gerais), por meio da compra da empresa Akwan. Nos anos seguintes as novas plataformas surgiram e diversos concorrentes foram comprados (como o YouTube em 2006 e o Waze, em 2013).

O crescimento inimaginável para quem visse dois universitários trabalhando em uma garagem, no entanto, traz questionamentos inevitáveis em um mundo onde a facilidade de acesso à informação contrasta com um monopólio de mercado. “O Google conquistou um poder tão grande que qualquer empresa que surja com capacidade de criar concorrência é adquirida pela marca – e aí é mantida por ela ou simplesmente destruído.

“O problema passa a ser quando uma empresa está em praticamente em todos os smartphones, com acesso a uma infinidade de informações de cada pessoa. Que outra instituição têm em mãos tanto poder?”, questiona o cientista Silvio Meira.
A partir do problema do monopólio surgem questões como: os resultados das buscas mostram o que é relevante para o usuário ou o que o Google quer me mostrar?

As contradições geradas pelo sucesso da marca ficam evidentes na lista elaborada pelos fundadores ainda nos primeiros anos de história, batizada de “Dez verdades em que acreditamos”. Na lista constam afirmações como “A democracia funciona na Web”. Mas talvez não para quem tentou competir com o gigante dono do mercado.

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